Folha de S. Paulo


Livro apresenta nova geração de estudantes de Hong Kong anti-Pequim

Xaume Olleros/AFP
The statue
Estátua 'O Homem de Guarda-Chuva' é erguida em protesto pró-demoracia em Hong Kong, em 2014

Em 2014, correram o mundo as imagens de adolescentes usando guarda-chuvas para se protegerem das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia de Hong Kong, em repressão aos protestos por democracia na cidade, ex-colônia britânica.

O Umbrella Movement (movimento guarda-chuva), como ficou conhecido, expôs a insatisfação dos "hong kongers" com o domínio chinês, que em 2017 completou 20 anos. Mais do que isso, lançou luz sobre as diferenças —políticas e culturais— sentidas por uma geração de jovens que, ao contrário dos pais, não mais se identificavam com a Coroa britânica, tampouco com a China.

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Raio-x Hong Kong
Raio-x Hong Kong

É essa geração que o jornalista Ben Bland retrata em seu livro "Generation HK", lançado neste ano pela Penguin como parte de uma série de títulos dedicados ao aniversário de 20 anos do retorno ao controle chinês.
Apesar de ter falhado no objetivo principal —eleições locais livres da interferência de Pequim, que veta candidatos que considere indesejáveis—, o movimento mudou a ilha, afirma o autor à Folha.

"Foi um momento de despertar político para muitos jovens 'hong kongers'", diz Bland, que é correspondente do "Financial Times" na cidade desde 2015.

Ele entrevistou alguns dos rostos mais conhecidos dos 79 dias de protestos: os estudantes Joshua Wong, 21, e Nathan Law, 24, que depois fundaram um partido pró-democracia —Law foi eleito, no ano passado, para o Conselho Legislativo da cidade, levando o movimento para o centro do poder.

"No passado, dizíamos que não amávamos o Partido Comunista, mas ainda amávamos o país e éramos parte da China. Agora, apenas dizemos que somos de etnia chinesa", relata Wong no livro.

Ele e outros 15 jovens foram acusados de desobediência e aguardam julgamento –no último dia 7, um juiz adiou sua decisão para ouvir novos argumentos da defesa.

A insatisfação com Pequim, segundo Bland, cresceu nas últimas duas décadas em ritmo similar ao do custo de vida. O aluguel médio de um apartamento de dez metros quadrados na ilha é de US$ 540 (R$ 1.780).

Ao mesmo tempo, Hong Kong perdeu o peso que tinha em 1997, quando sua pujança contrastava com uma China ainda a caminho do crescimento dos anos 2000.

Em resposta aos protestos, o regime de Xi Jinping apertou o cerco contra vozes críticas. O cada vez mais poderoso líder chinês alertou os "hong kongers" para não "cruzarem a linha vermelha".

"Censura e autocensura vêm crescendo em Hong Kong nos últimos anos", afirma Bland, que cita pressão de Pequim sobre veículos de imprensa e mercado editorial. Ele conta que seu livro, por exemplo, não é vendido em muitas livrarias da ilha.

Ao retomar o controle de Hong Kong, Pequim concordou em uma transição de 50 anos —na forma da política "Um País, Dois Sistemas". Mas Xi vem deixando claro que espera mais lealdade dos "hong kongers" para com o Partido Comunista Chinês.

"Ele quer assegurar que a cidade tenha um papel mais solidário ao regime em objetivos do partido como a iniciativa Belt and Road [que pretende fomentar a cooperação entre países da Eurásia]", diz Bland. "Jovens ativistas estão determinados a recuar dessa tendência. A batalha pelo futuro de Hong Kong está acontecendo agora, não em 2047."


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