Folha de S. Paulo


Catalunha volta às urnas dois meses após governo ser destituído

Emilio Morenatti/Associated Press
Nationalist activists march during a mass rally against Catalonia's declaration of independence, in Barcelona, Spain, Sunday, Oct. 29, 2017. Thousands of opponents of independence for Catalonia held the rally on one of the city's main avenues after one of the country's most tumultuous days in decades. (AP Photo/Emilio Morenatti) ORG XMIT: XAF105
Ativistas pró-Espanha protestam contra declaração de independência da Catalunha, em outubro

A Catalunha, região da Espanha que se declarou independente em 27 de outubro e horas depois teve seu governo destituído, com posterior intervenção do governo central espanhol, volta às urnas nesta quinta-feira (21).

Cerca de 5,5 milhões de eleitores poderão decidir a composição do novo Parlamento e, consequentemente, do governo regional.

Na sexta-feira (15), último dia permitido para a publicação de pesquisas de opinião, o Cidadãos, liderado pela andaluza Inés Arrimadas, apareceu como a força mais votada em ao menos cinco sondagens, ultrapassando a ERC (Esquerda Republicana), até então líder. O cenário, no entanto, é de ingovernabilidade.

As eleições na Catalunha estão polarizadas majoritariamente entre dois blocos —separatistas e constitucionalistas. Nenhum deles, segundo pesquisas, teria maioria absoluta no Parlamento, o que só seria possível com a obtenção de ao menos 68 das 135 cadeiras.

Para Josep Joan Moreso, catedrático de filosofia do direito da Universidade Pompeu Fabra, não é só a campanha que está dividida mas sim toda a sociedade catalã —e isso há tempos.

"Os últimos anos polarizaram a Catalunha. O catalanismo histórico era um movimento que tentava abraçar todo o país, o slogan da transição e da esquerda democrática era 'un sol poble' [um só povo]. Ao introduzir a secessão na agenda, a sociedade está rompida. Uma ala quer separação, a outra, não."

Um dos blocos da corrida eleitoral reedita a coalizão que governou a Catalunha a partir de 2016 e organizou o referendo ilegal de 1º de outubro, culminando na efêmera independência. É constituído por ERC (esquerda), Juntos pela Catalunha (nova versão da Convergência, tradicional direita catalã) e CUP (extrema esquerda).

Apesar de ter se apresentado por candidaturas separadas, a expectativa é que voltem a se unir, caso obtenham maioria. Entretanto, conquistariam só 63 cadeiras, segundo a pesquisa Metroscopia divulgada na sexta (15).

O segundo bloco não tem um discurso de pacto a qualquer custo para manter a via constitucionalista. É formado por Cidadãos (partido de ideologia quase mais à direita que o Partido Popular, do premiê Mariano Rajoy), PP (tradicional direita espanhola) e PSC (socialistas). Teriam de 60 a 62 assentos.

Editoria de arte

O fiel da balança, pelo que indicam as sondagens, seria a Catalunha em Comum, esquerda não independentista, porém favorável a um referendo negociado, e atualmente no poder em Barcelona.

A Metroscopia estima que esse bloco amealhe 11 cadeiras –quantia suficiente para definir uma maioria, tanto de um lado como de outro.

Enquanto o Cidadãos sinaliza que formaria governo com todos os que quiserem alinhar a Catalunha de vez à Espanha e "voltar à normalidade'', o PSC avisa que não é bem assim. PP e Catalunha em Comum não compartilhariam o mesmo governo em nenhuma hipótese, segundo ambos.

Ante tal cenário, Moreso afirma que os Comuns devem tentar deslocar a questão de soberania versus constitucionalismo para a tradicional direita versus esquerda.


Endereço da página: