Folha de S. Paulo


Presidente do Peru nega que vá renunciar por ligação com Odebrecht

Presidência do Peru/Reuters
Cercado por aliados, Pedro Pablo Kuczynski se defende em pronunciamento transmitido pela TV
Cercado pro aliados, Pedro Pablo Kuczynski se defende em pronunciamento transmitido pela TV

O presidente do Peru Pedro Pablo Kuczynski disse nesta quinta-feira (14) que não vai renunciar ao cargo após a revelação de que uma empresa da qual é sócio recebeu dinheiro da brasileira Odebrecht entre 2004 e 2007, período no qual ele foi ministro.

Em pronunciamento transmitido pela TV ao lado de integrantes de seu gabinete e parlamentares de seu partido, Kuczynski reconheceu que era dono da Westfield Capital, que recebeu dinheiro da empreiteira, mas afirmou que não a gerenciava enquanto ocupava cargos públicos e negou irregularidades.

Antes do discurso, líderes de vários partidos no Congresso controlado pela oposição prometeram tirá-lo do poder caso ele não deixasse o cargo voluntariamente.

O Força Popular, partido de direita liderado por Keiko Fujimori —candidata derrotada por Kuczynski nas últimas eleições— e que tem a maioria das cadeiras no Congresso, pediu que o presidente renunciasse até o final da quinta-feira.

"Sou um homem honesto e o fui por toda a minha vida. Estou disposto a defender a verdade", disse Kuczynski, 79, que fez carreira no setor financeiro dos Estados Unidos antes de voltar ao Peru para ser ministro da Fazenda e premiê durante o governo de Alejandro Toledo —que também é acusado de receber propina da Odebrecht.

O presidente disse que abrirá mão de seu sigilo bancário e prometeu se submeter a questionamentos do Congresso e da procuradoria-geral do país.

A Odebrecht está no centro do maior escândalo de corrupção da América Latina desde que fez sua delação, na qual admitiu subornar políticos em mais de dez países. A empreiteira não citou publicamente quem recebido propinas no Peru, mas prometeu colaborar com as autoridades para determinar quem participou de seus esquemas.

A promessa do atual presidente de resistir após uma semana de aumento nas tensões pode ampliar a crise política no país. O mais recente escândalo abalou os mercados de uma das economias mais estáveis da região e segundo maior produtor mundial de cobre.

Além de Kuczynski, os últimos três presidentes do Peru também estão envolvidos no escândalo de Odebrecht, que atingiu também Keiko Fujimori, a líder da oposição —que é filha do ex-presidente que Alberto Fujimori, preso por uma série de crimes não relacionados a empreiteira brasileira.

Entre os ex-presidentes envolvidos, Ollanta Humala foi preso e Toledo foi condenado, mas aguarda nos Estados Unidos um pedido de extradição feito pelo Peru. Alan García também enfrenta denúncias, mas até o momento não foi condenado.

O CASO

A comissão do Congresso que investiga o caso Odebrecht revelou na quinta que a Westfield Capital, controlada por Kuczynski, recebeu diretamente US$ 782 mil da empreiteira brasileira entre 2004 e 2007—ele foi ministro até 2006.

Metade do dinheiro foi depositado em uma conta do presidente.

Além disso, Kuczynski já era suspeito de auferir US$ 4,4 milhões por serviços de consultoria à empresa brasileira entre 2004 e 2013.

A descoberta sobre a Westfield Capital fortalece esta acusação, já que o valor deste caso foi transferido para a First Capital, dirigida por um ex-sócio de Kuczynski e cujo endereço é o mesmo da empresa do presidente.

Os promotores convocaram Kuczynski para um depoimento na próxima quinta (21) e ele receberá a comissão parlamentar que investiga o caso no dia seguinte.


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