Folha de S. Paulo


Juiz prende kirchneristas e pede fim de foro privilegiado para Cristina

Eitan Abramovich - 16.out.2017/AFP
A ex-presidente Cristina Kirchner, durante a campanha na qual conquistou uma vaga ao Senado
A ex-presidente Cristina Kirchner, durante a campanha na qual conquistou uma vaga ao Senado

O juiz federal argentino Claudio Bonadio, que investiga acusações de obstrução de Justiça e de encobrimento de investigações contra a gestão Cristina Kirchner, pediu nesta quinta-feira (7) a retirada do foro privilegiado da ex-presidente, hoje senadora.

Ele também ordenou a prisão preventiva de alguns membros da cúpula do gabinete kirchnerista e restringiu a circulação de outros.

O primeiro a ser detido foi o ex-secretário legal e técnico Carlos Zaninni, braço direito de Cristina, levado pela polícia de sua casa em Río Gallegos (Patagônia), no meio da madrugada.

Também foi determinada a prisão preventiva do ex-chanceler Hector Timerman, só que este em regime domiciliar, devido a seu estado de saúde. Além disso, receberam proibições de sair do país o ex-chefe de inteligência Oscar Parrilli e o deputado kirchnerista Andrés Larroque.

Eles são acusados de livrar de investigações iranianos supostamente vinculados ao atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), que matou 86 pessoas em 1994.

Essa anistia teve como contrapartida a assinatura de um tratado de comércio entre Argentina e Irã —depois considerado inconstitucional.

O caso ganhou repercussão internacional, uma vez que muitos dos que estavam na lista dos acusados eram procurados pela Interpol. O governo foi criticado pela oposição e alegava estar atuando dessa maneira devido à crise econômica e à necessidade de atrair investimentos estrangeiros ao país.

A acusação que fundamentou as decisões do juiz Bonadio procede da denúncia que o promotor Alberto Nisman (1963-2015) leria para o Congresso nacional um dia depois de ter sido encontrado morto em seu apartamento.

Perícia recente dá conta de que Nisman foi assassinado, embora não se tenha estabelecido quem o teria matado e quem teria sido o mandante.

Após a morte de Nisman, porém, a própria Cristina, então presidente, determinou que a denúncia fosse levada adiante e investigada.

FUTURO DE KIRCHNER

A situação da ex-presidente agora ficou um pouco mais complicada. Além do caso de encobrimento e obstrução de Justiça, ela é acusada de especular com o dólar de posse de informação privilegiada, de enriquecimento ilícito no período em que ela e o marido, Néstor, estiveram no poder (2003-2015), de tráfico de influência e de lavagem de dinheiro por meio dos hotéis que pertencem à família, no sul do país.

Se considerada culpada na causa da AMIA, poderá também ser acusada de traição à pátria, crime cuja pena vai de dez anos a prisão perpétua.

"Me acusar de traição é um desvario judicial", disse a senadora, em entrevista coletiva na qual atacou seu sucessor na Casa Rosada. "Mauricio Macri é o condutor da orquestra e Bonadio executa a partitura, que tem como objetivo assustar e aniquilar a população, os movimentos sociais e a oposição."

Como foi eleita em outubro e tomou posse no Senado na semana passada, Cristina só poderá ir a julgamento por qualquer dessas causas na eventualidade de seu foro privilegiado ser retirado.

O primeiro passo já foi dado, por meio de um pedido de Bonadio ao Congresso. Este, agora, deve formar uma comissão que tem até 60 dias para deliberar se leva ou não o caso para votação do Parlamento.

Se essa consulta ocorrer e for decidido que a ex-presidente não tem mais o foro privilegiado, poderá então ir presa preventivamente e responder os processos em que está envolvida.

Também na quinta, foram presos outros líderes de agrupações kirchneristas que teriam participado do toma lá, dá cá com o Irã. Espera-se que, a partir desta sexta-feira (8), prestem novas declarações à Justiça.

A oposição kirchnerista reagiu à ordem judicial. O deputado Agustín Rossi disse que se trata de "uma tentativa de aniquilar a oposição, uma perseguição política, e por trás dela está Mauricio Macri".

Agrupações kirchneristas planejavam para as 20h (21h de Brasília), na Praça de Maio, uma manifestação contra as prisões.


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