Folha de S. Paulo


Israel recebe anúncio de Trump sobre Jerusalém com euforia e medo

Num misto de ansiedade, euforia e temor, Israel contou as horas, nesta quarta-feira (6), para o discurso em que o presidente americano Donald Trump reconheceria Jerusalém como capital do país.

Políticos e analistas se dividiram entre o entusiasmo da direita e o nervosismo do centro e da esquerda. A grande maioria dos ouvidos pela imprensa local disse apoiar a decisão de Trump, mesmo que com divergências sobre a forma de pô-la em prática.

Ronen Zvulun/Reuters
Homem passa em frente a projeção das bandeiras de Israel e EUA na Cidade Velha de Jerusalém
Homem passa em frente a projeção das bandeiras de Israel e EUA na Cidade Velha de Jerusalém

Ninguém esconde o temor de que a decisão leve a uma escalada na violência regional. Apesar disso, representantes da direita saudaram:

"É um presente, uma grande vitória do sionismo, que conecta Jerusalém formalmente ao resto do país aos olhos do mundo", disse o ministro dos Transportes e da Inteligência, Yisrael Katz, do governista Likud, referindo-se à resolução da ONU que estabelece Jerusalém como "corpus separatum", cidade sob regime internacional.

"Hoje é um dia de festa, um evento histórico. É comparável à Declaração Balfour", completou o parlamentar Yehuda Glick, representante da ala mais à direita do Likud, lembrando o documento em que os ingleses atestavam ver "com bons olhos" a criação de um Estado judeu no território da Palestina histórica (na época, Israel, territórios palestinos e Jordânia).

Durante todo o dia, rádios, TVs e sites da internet tentaram prever o que Trump diria. Analistas e especialistas israelenses, palestinos e estrangeiros foram entrevistados, bem como políticos, ativistas e líderes de ONGs.

O pronunciamento de Trump foi analisado com lupa na mídia. Para alguns, a direita engoliu alguns sapos, como o fato de que Trump não se referiu a Jerusalém como cidade unificada —entendimento corrente em Israel desde a tomada da cidade, na Guerra dos Seis Dias (1967).

Por meio dessa omissão, Trump teria, na prática, posto Jerusalém na mesa de negociações com os palestinos para uma possível divisão entre lados ocidental e oriental.

A esquerda, por outro lado, tinha esperança de que a decisão de Trump fosse acompanhada de uma nova e clara iniciativa de paz.

"Fiquei emocionada com o discurso. Mas ficou faltando esclarecer se ele vai colocar a mão na massa para criar dois Estados", disse a ex-chanceler Tzipi Livni, do Campo Sionista (centro-esquerda).

O mesmo acredita o ex-embaixador dos Estados Unidos, Daniel Shapiro, para quem Trump se atrapalhou ao fazer a declaração sem consulta prévia a dirigentes árabes.

"Trata-se de uma oportunidade perdida. Reconhecer a capital sem transferir a embaixada imediatamente ou anunciar novas negociações de paz não leva ao gol final de alcançar dois Estados. O resultado é uma medida apenas retórica. Ele criou uma tempestade em copo d'água."

Editoria de Arte/Folhapress

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