Folha de S. Paulo


Após negociação frustrada, Merkel diz preferir eleição a governo de minoria

Axel Schmidt/Reuters
A chanceler Angela Merkel, em encontro de seu grupo partidário no Parlamento, em Berlim, na segunda

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse nesta segunda-feira (20) não ver razão para renunciar ao cargo, após o colapso das negociações para a formação de um governo que incluísse sua sigla (a CDU, União Democrata-Cristã), a CSU (sigla-irmã da primeira na Baviera), os liberais do FDP e os Verdes.

No domingo (19), o anúncio do FDP de que abandonaria a rodada de conversas deixou poucas opções para uma costura de coalizão por Merkel. Novas eleições podem acontecer em breve.

Em entrevista a uma rede de TV na segunda, a premiê disse que prefere passar novamente pelo crivo das urnas a liderar um governo de minoria. Em outra entrevista, ela afirmou se sentir pronta para atuar por mais quatro anos como primeira-ministra e que qualquer pedido para que renuncie ao posto não seria um bom expediente para iniciar uma nova coalizão.

"Não quero dizer nunca [liderarei um governo de minoria], mas estou bastante cética e acho que novas eleições seriam a melhor forma de avançar", declarou à ARD.

Mais cedo, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, pediu que os grandes partidos reconsiderem as suas posições e dialoguem.

"Haveria grande preocupação se as forças políticas no país com a economia mais forte da Europa não conseguissem cumprir com suas responsabilidades", afirmou. O presidente deve se reunir com os líderes das siglas durante esta semana.

Após uma maratona de reuniões no final de semana, Christian Lindner, líder da sigla liberal FDP, afirmou que as posições dos partidos eram irreconciliáveis e disse também que "é melhor não governar do que governar de uma maneira errada".

Merkel, que se reuniu na segunda-feira com o presidente Steinmeier antes de sua declaração, enfrenta uma situação inédita em seu mandato de 12 anos, e esta crise política é a mais severa das últimas décadas. Sobram poucas opções para evitar novas eleições.

A primeira saída é um governo do CDU com os Verdes, em minoria. Isso significa que Merkel precisaria negociar o apoio de pequenos partidos no Parlamento a cada votação pela qual passasse —esse seria um governo frágil, diferente daquele prometido na campanha.

Outra possibilidade é governar mais uma vez com seu principal rival, o SPD (Partido Social-Democrata). Essa aliança entre CDU e SPD é conhecida como "grande coalizão".

É dessa maneira que Merkel vem governando nos últimos anos, mas o SPD deixou claro desde as eleições de 24 de setembro que já não tem interesse na parceria. Depois de um resultado historicamente ruim, o partido afirma preferir voltar à oposição e ali se fortalecer.

O líder do SPD, Martin Schulz, disse em Berlim que, "diante dos resultados das eleições, não estamos disponíveis para uma grande coalizão". "Não temos medo de novas eleições."

Mas o chamado de Steinmeier por renovadas negociações pode ter algum apelo, em especial porque não é do interesse dos grandes partidos que o país volte às eleições neste ano.

Em primeiro lugar, porque as siglas poderiam ser responsabilizadas pelos eleitores pelo fiasco político e, dessa maneira, perder votos. Outra razão é que a repetição do pleito poderia favorecer o partido de direita ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha), que tem hoje 92 assentos entre 709.

"É um dia para uma profunda reflexão sobre como avançar", Merkel disse na segunda. "Como chanceler, farei de tudo para garantir que o país seja bem administrado nas difíceis semanas por vir."

Se os partidos não conseguirem formar nenhuma coalizão nas próximas semanas, o presidente Steinmeier é obrigado a nomear um chanceler interino para ser aprovado pelo Parlamento. Após três rodadas de votos entre legisladores, caso ainda não haja um governo, é preciso convocar novas eleições.

DISCÓRDIA

As negociações entre CDU, Verdes e FDP, desmoronadas no domingo, enfrentavam grandes obstáculos: os partidos divergiam em uma série de questões fundamentais, como ambiente e migração —a discórdia era especialmente marcada entre Verdes e FDP.

Os Verdes, por exemplo, querem reduzir as emissões de carbono em 120 milhões de toneladas métricas. O FDP, por sua vez, propõe reduzi-las em 66 milhões de toneladas métricas.

Quanto à migração, Verdes defendem facilitar a ida à Alemanha das famílias dos refugiados acolhidos pelo país. Isso significa a entrada de cerca de 300 mil pessoas. O FDP e a própria CDU de Merkel não concordam.


Endereço da página:

Links no texto: