Folha de S. Paulo


Em 'ato de amizade', Macron convida Hariri e família para a França

Aziz Taher - 10.nov/Reuters
Cartaz mostra o premiê libanês, Saad Hariri, em Beirute (Líbano)
Cartaz mostra o premiê libanês, Saad Hariri, em Beirute (Líbano)

O presidente francês, Emmanuel Macron, convidou o premiê libanês, Saad Hariri, e sua família para a França, afirmou o Palácio do Eliseu em um comunicado nesta quarta-feira (15).

O anúncio ocorre após o presidente do Líbano, Michel Aoun, afirmar que Hariri e sua família estavam sendo mantidos como reféns pela Arábia Saudita em Riad.

"Após falar com o príncipe herdeiro [saudita] Mohammed bin Salman e com o premiê libanês, Saad Hariri, o presidente [Macron] convidou Saad Hariri e sua família para a França", afirmou o Eliseu.

Uma fonte do palácio ouvida pela agência Reuters afirmou que a família Hariri chega a Paris nos próximos dias.

Em Bonn (Alemanha) para conferência climática, Macron esclareceu que o convite era um "ato de amizade" e não uma oferta de asilo político.

"Espero que o Líbano se estabilize e que as escolhas políticas sejam feitas de acordo com a lei institucional", afirmou. "Precisamos de um Líbano forte, com sua integridade territorial respeitada. Precisamos de líderes que sejam livres para fazer suas próprias escolhas e falar livremente."

REFÉM

"Não vamos aceitar que ele permaneça um refém cujo resgate não sabemos qual é", havia afirmado Aoun horas antes em um comunicado. "Nada justifica que Hariri não tenha retornado em 12 dias. Por isso consideramos que ele esteja detido."

Aoun acrescentou que a família de Hariri também estava detida em sua casa na Arábia Saudita, sendo revistada sempre que entra ou sai.

Hariri renunciou abruptamente ao cargo de premiê em um comunicado transmitido pela TV da capital saudita, Riad, em 4 de novembro. Desde então, ele não retornou ao país.

Hariri negou que estivesse detido. Riad nega que o tenha sequestrado ou forçado a renunciar.

Mais cedo, Hariri havia escrito no Twitter que estava "perfeitamente bem" e que voltaria "se Deus quiser, ao querido Líbano, como prometi". Na quarta-feira, ele disse que voltaria em dois dias, mas que sua família ficaria na Arábia Saudita, "seu país".

Hariri tem nacionalidade saudita e a fortuna de sua família é baseada na companhia de construção Saudi Oger, construída por seu pai, Rafik Hariri, que serviu duas vezes como premiê libanês e foi assassinado em 2005.

Antes do anúncio de Macron, a previsão era que o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, fosse a Riad para se encontrar tanto com o príncipe Salman, quanto com Hariri.

A França tem laços próximos com o Líbano, que esteve sob controle francês no período entre guerras.

A renúncia de Hariri abriu uma crise no Oriente Médio, ao ampliar uma disputa de poder entre a Arábia Saudita e o Irã

Hariri sempre foi um aliado da Arábia Saudita no Líbano, enquanto Aoun é aliado político do Hizbullah, grupo islâmico xiita com fortes laços com o Irã e que os sauditas consideram uma organização terrorista.

O governo de coalizão do Líbano foi formado no ano passado após um acordo político que tornou Aoun presidente, Hariri premiê e que incorporou membros do Hizbullah no gabinete.

A Constituição libanesa determina ainda que o presidente seja sempre cristão, o premiê, muçulmano sunita, e o chefe do Parlamento, muçulmano xiita.


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