Folha de S. Paulo


Produção de petróleo na Venezuela atinge menor nível mensal desde 1989

A produção de petróleo da Venezuela alcançou em outubro o nível mais baixo em 28 anos, informou nesta segunda-feira (13) a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

A commodity é praticamente o único produto de exportação do país e a principal fonte de recursos do regime chavista, o que deve agravar a crise de desabastecimento e dificultar o financiamento das atividades estatais.

Jim Watson - 18.out.2017/AFP
Posto da estatal PDVSA em Caracas; Venezuela tem menor volume mensal de extração desde 1989
Posto da estatal PDVSA em Caracas; Venezuela tem menor volume mensal de extração desde 1989

Segundo dados fornecidos pelas autoridades venezuelanas à organização, a extração caiu de 2,09 milhões de barris para 1,96 milhões. Nas estimativas do mercado, porém, o número foi ainda menor —1,86 milhão de barris.

A renda auferida pela exportação de petróleo representa mais de 95% de todos os recursos que o país consegue em moeda forte. O dinheiro é usado também para sustentar os programas sociais e pagar os credores dos títulos da dívida pública.

Embora a petroleira PDVSA seja o motor financeiro do regime de Nicolás Maduro, a estatal sofre com a queda brusca do preço do petróleo, graves problemas operacionais e casos de corrupção envolvendo seus executivos.

Nesta segunda, o Ministério Público informou que dez executivos e ex-executivos da sucursal da empresa no leste venezuelano foram presos acusados de terem causado um prejuízo de US$ 1,16 bilhão por irregularidades na produção entre 2014 e 2017.

Procurador-geral designado pela Assembleia Constituinte, Tarek William Saab disse que, nos três anos, os funcionários "fizeram trabalhos de maquiagem das cifras de produção para demonstrar eficiência" da filial.

Com eles, já são 42 os funcionários da petroleira presos sob a acusação de causar prejuízo aos cofres públicos, dos quais sete são gerentes de alto escalão.

Em entrevista à agência de notícias Reuters, Francisco Monaldi, especialista em mercado de petróleo latino-americano, chamou a queda na produção de extraordinária, mas afirma que deve piorar mais nos próximos meses.

"Se compararmos em números anuais, podemos ver um impacto semelhante ao da greve de 2002 e 2003", disse, em referência ao movimento sindical que paralisou a produção logo após a tentativa de golpe de Estado contra Hugo Chávez (1954-2013).

Embora a Opep não publique dados históricos sobre os volumes de petróleo produzido pelos seus membros, a última vez que a Venezuela extraiu menos de 2 milhões de barris por mês foi em 1989.

Os números, porém, vem caindo desde a morte de Chávez e a chegada de Maduro ao comando do país. A média mensal caiu de 2,654 milhões de barris em 2015 para 2,373 milhões no ano passado, segundo a Opep.

"A produção vem se deteriorando em um nível alarmante. No ano que vem poderemos ver uma nova queda de 10% na produção. Tudo isso no momento em que o país é alvo de sanções dos EUA e precisa reestruturar sua dívida", disse Monaldi.

O FMI projeta que o PIB venezuelano sofra uma queda de 12% neste ano, o quarto consecutivo em recessão. No acumulado desde 2014, a economia do país caribenho já encolheu 25%.


Endereço da página:

Links no texto: