Folha de S. Paulo


Trump diz confiar em inteligência dos EUA, mas se esquiva sobre ação russa

Em mais uma amostra de sua condução errática das relações com o governo de Vladimir Putin, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse neste domingo (12) que acredita nas agências americanas de inteligência, após afirmar na véspera que o líder russo lhe havia assegurado não ter interferido nas eleições à Casa Branca de 2016.

Trump foi questionado sobre a suposta ingerência de Moscou enquanto participava de entrevista coletiva ao lado do presidente do Vietnã, Tran Dai Quang, durante visita a esse país.

"Se acredito ou não [na interferência], estou com nossas agências, especialmente [pela forma] como elas estão constituídas agora, com suas lideranças. Acredito em nossas agências. Trabalho com elas de maneira muito intensa", disse o mandatário americano, esquivando-se da pergunta.

Mais cedo, Trump havia dito que Putin se sentira "insultado" pelas acusações contra ele e que "isso não é bom para nosso país".

Trump fala sobre Putin

O aparente recuo do americano ocorre depois de o diretor da CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), Mike Pompeo, ter reafirmado as conclusões da agência de que a Rússia tentou ajudar Trump na campanha por meio da invasão dos sistemas de e-mail da equipe da democrata Hillary Clinton e de propaganda e notícias falsas nas redes sociais.

No encontro que teve com Putin em Danang (Vietnã), por ocasião da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), Trump disse ao líder russo esperar ajuda para "resolver, ao lado da China, a perigosa crise da Coreia do Norte".

O republicano afirmou ainda acreditar que as novas sanções impostas pelos chineses irão amenizar os ímpetos do ditador norte-coreano, Kim-Jong-un. Pelas redes sociais, Trump questionou por que o norte-coreano o chama de "velho" se ele nunca o xingou de "insano e gordo".

Trump fala sobre norte-coreano

Trump também citou Hillary Clinton, com quem disputou as eleições para presidente, e o ex-presidente Barack Obama para dizer que os democratas falharam nas tentativas de manter boas relações com os russos.

Trump cita Hillary

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MAR DA CHINA

Outra questão abordada pelo presidente dos EUA no Vietnã foi o mar da China meridional, alvo de disputa em que cinco países contestam as condições para navegação impostas pela China.

"Se eu posso ajudar a mediar ou arbitrar, por favor, avise-me", afirmou Trump, em conferência em Hanói com o presidente do Vietnã, Tran Dai Quang. "Sou um excelente mediador e árbitro", completou o norte-americano.

Quang afirmou que o Vietnã acredita em negociações pacíficas e com base nas leis internacionais para lidar com as disputas no mar da China meridional.

Além do Vietnã, Brunei, Malásia, Filipinas e Taiwan têm reivindicações sobre a região.

Desde que o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, se aproximou da China, o Vietnã tem desafiado o poder do governo Xi Jinping. Em julho, a China pressionou os vietnamitas a interromper a perfuração de petróleo em uma das áreas em disputa. E as relações entre os países só devem voltar à normalidade após os encontros deste final de semana no país.

As disputas sobre o mar também foram tema de discussão entre chineses e norte-americanos nos últimos dias.

FILIPINAS

Última parada da visita que Trump faz à Àsia, as Filipinas elogiaram a atitude do presidente norte-americano, mas dispensaram qualquer mediação, uma vez que o governo de Rodrigo Duterte busca estreitar os laços econômicos com a China.

"Agradecemos. É muito amável, e uma oferta generosa, porque é um bom mediador", disse o chanceler filipino, Alan Peter Cayetano. "Mas, certamente, os países envolvidos na disputa devem responder em grupo, ou de maneira individual, e um único país não pode dar uma resposta imediata porque a mediação diz respeito a todos", completou.

Duterte disse ainda que conversou sobre a disputa com o presidente Xi Jinping em um encontro no sábado (11), em Danang, à margem da cúpula da Apec. "Ele nos garantiu mais uma vez: 'Não se preocupe, terá todos os direitos de passagem. Isso também se aplicará a todos os países'", contou Duterte ao voltar para Manila.

Nesta segunda (13), a questão do mar da China meridional deve voltar à pauta durante a reunião da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).


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