Folha de S. Paulo


União Europeia diz que negociações do 'brexit' estão emperradas

Xinhua/Ye Pingfan
David Davis (esq.), representante britânico nas negociações do 'brexit', e Michel Barnier, da União Europeia, deixam coletiva após a última rodada de negociação
David Davis (esq.), representante britânico nas negociações do 'brexit', e Michel Barnier, que representa a União Europeia, deixam entrevista coletiva após a última rodada de negociação, em Bruxelas

O chefe da União Europeia nas negociações para a saída do Reino Unido do bloco —o "brexit" — disse que a última rodada de conversas entre os dois lados, que terminou nesta sexta (10), não trouxe novidades e afirmou que é necessário conseguir avanços antes da próxima reunião, em dezembro.

A demora nos dois lados em acertar os detalhes da separação, que deve ocorrer até março de 2019, é mais uma notícia ruim para a premiê Theresa May, que enfrenta uma série de dificuldades internas, incluindo a queda de apoio popular e a saída de dois ministros.

Michel Barnier, o representante europeu, disse nesta sexta que os dois dias de negociação recentes serviram apenas para "aprofundar" o debate sobre alguns temas, como a questão da fronteira com a Irlanda e o valor que Londres terá que pagar para Bruxelas, mas que nada ficou decidido.

O principal avanço, segundo ele, se deu no debate de como ficarão os direitos dos europeus que moram no Reino Unido e dos britânicos que vivem na Europa, mas mesmo neste não houve decisões.

De acordo com Barnier, se as negociações sobre esses tópicos não avançarem nas próximas duas semanas, a rodada de negociações de dezembro não poderá debater assuntos mais complexos, em especial como ficará a relação comercial entre o Reino Unido e a União Europeia.

As declarações dele ocorreram logo depois do idealizador do Artigo 50 —o mecanismo legal que permite a saída da União Europeia— declarar que os dois lados podem cancelar a separação a qualquer momento.

"Enquanto as negociações de divórcio acontecem, os dois lados permanecem casados podemos mudar de ideia a qualquer momento", afirmou John Kerr, que foi embaixador britânico na UE entre 1990 e 1995, em discurso em Londres.

Para ele, o governo britânico tem enganado os eleitores ao dizer que o processo não pode ser interrompido.

May já afirmou que não aceitará "tentativas para bloquear os desejos democráticos do povo britânico dificultando ou paralisando nossa saída da União Europeia".

MAY

O plebiscito que decidiu pelo "brexit", realizado em 2016, teve vitória pela saída com 52% dos votos e pesquisas mais recentes mostram que o país segue dividido sobre a questão.

Uma pesquisa divulgada na terça-feira (7) pelo instituto ORB indicou que 66% dos eleitores britânicos desaprovam a maneira como o governo tem lidado com essas negociações. Eram 45% os descontentes em maio passado.

O levantamento foi feito entre os dias 3 e 5 de novembro, com 2.044 entrevistas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Enquanto isso, a premiê navega entre atoleiros. Só neste mês, ela já perdeu dois ministros. Michael Fallon, secretário de Defesa, renunciou no dia 1º depois que foi acusado de assédio sexual.

Priti Pate, que comandava a pasta de Desenvolvimento Internacional e era uma das principais apoiadoras do Brexit no gabinete, caiu na quarta (8) após a revelação de que teve encontros escondidos com representantes de Israel.

May teve que teve de lidar ainda com uma série de atentados e com o incêndio que matou 80 pessoa numa torre residencial londrina. Apesar de não serem sua responsabilidade direta, esses episódios minaram sua imagem. Críticos, por exemplo, sugeriram que os cortes no efetivo policial tornaram o país mais vulnerável a ataques.

Como ela não tem sozinha a maioria do Parlamento desde as eleições de junho, seu governo é frágil. Especula-se que ela não chegará ao fim do mandato, previsto para 2022.


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