Folha de S. Paulo


Após pressão por venda, sobe tom de ataques entre Donald Trump e CNN

Enquanto uma maçã aparece na tela, um locutor diz: "Algumas pessoas podem lhe dizer que isto é uma banana. Podem gritar e até escrever em letras maiúsculas. Mas é uma maçã. Fatos em primeiro lugar", encerra a rede de TV CNN, acusada por Donald Trump de propagar notícias falsas, em um comercial que alfineta o presidente.

A peça, lançada há duas semanas e alvo de respostas e sátiras de conservadores que viralizaram o embate, é o penúltimo capítulo do confronto entre a rede de TV e o presidente, que nesta quarta (8) atingiu um novo patamar.

Joshua Roberts - 6.out.2017/Reuters
Cartaz que diz 'CNN é uma porcaria' aparece ao lado de foto de Trump em feira de armas na Pensilvânia
Cartaz que diz 'CNN é uma porcaria' aparece ao lado de foto de Trump em feira de armas na Pensilvânia

Segundo a mídia americana e o "Financial Times", o governo Trump teria sugerido que, para a fusão da gigante Time Warner com a telefônica AT&T ocorrer, seria preciso pôr à venda o canal que hoje pertence à primeira.

Nesta quinta (9), porém, o presidente da AT&T, Randall Stephenson, negou que a venda tenha sido imposta como condição para a fusão. E afirmou que "não tem absolutamente nenhuma intenção" de vender a CNN.

A justificativa é evitar monopólios, segundo o Departamento de Justiça, ao qual cabe aprovar a fusão. Mas a longa queda de braço entre a CNN e Trump atrai suspeitas.

Ainda na campanha, Trump criticava a CNN. A poucos dias da eleição, afirmou que seu governo não iria aprovar a compra da Time Warner pela AT&T porque "é muita concentração de poder nas mãos de poucos". "Esse é um exemplo da estrutura de poder que combato", disse.

A declaração foi depois minimizada pelo diretor antitruste do Departamento de Justiça, Makan Delrahim, que disse não crer que a fusão representasse "questão grave".

Mas o parecer desta semana envolve em uma névoa as motivações do governo.

Reservadamente, oficiais envolvidos na negociação afirmam a veículos locais que se preocupam com a concentração de serviços de telefonia e mídia nas mãos do grupo. Historicamente, porém, esse raramente foi motivo para barrar uma fusão nos EUA.

ATRITO

Há poucos dias, o Departamento de Justiça estava em atrito com Trump.

Veio de lá o indiciamento do ex-chefe de campanha do presidente, Paul Manafort, por crimes como lavagem de dinheiro e fraude tributária.

Na ocasião, Trump queixou-se que a pasta se ocupasse disso em vez de investigar o envolvimento de sua ex-adversária Hillary Clinton em uma suposta fraude nas primárias democratas.

Tanto a Casa Branca quanto o Departamento de Justiça negam interferência externa no caso da AT&T e Warner.

Delrahim, da divisão antitruste, disse que "jamais foi orientado pela Casa Branca nessa ou em qualquer outra transação" sob sua análise.

Enquanto isso, grupos que reverberam as críticas de Trump à CNN atacam o comercial da rede de notícias.

Um deles, da NRA, maior lobby pró-armas dos EUA, usa o formato numa sátira com um limão: "Algumas pessoas podem lhe dizer que isto é um jornalista imparcial. Podem gritar, escrever em letras maiúsculas. Mas é um limão. Um limão amargo".


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