Folha de S. Paulo


Macri defende que EUA imponham embargo a petróleo da Venezuela

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O presidente da Argentina, Mauricio Macri, em Nova York
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, em Nova York

O governo Trump deveria endurecer drasticamente as sanções à Venezuela, impondo um embargo total a suas exportações de petróleo para os EUA, declarou o presidente da Argentina, Mauricio Macri. Segundo ele, a medida teria amplo apoio em toda a América Latina.

O presidente Donald Trump revelou uma série de sanções financeiras à Venezuela e a membros de seu governo durante o verão, incluindo a proibição de que qualquer instituição americana empreste mais dinheiro ao país. Mas ele não citou medidas mais draconianas, como um embargo total às exportações de petróleo venezuelano para os EUA.

Diante do agravamento da situação na Venezuela, o governo americano deveria adotar "absolutamente" uma proibição abrangente às exportações de petróleo do país para os EUA, afirmou o presidente argentino ao "FT" em Nova York na noite de terça-feira (7).

"Acho que deveríamos adotar um embargo total do petróleo", disse Macri. "As coisas estão cada vez piores. Hoje é realmente uma situação dolorosa. A pobreza cresce a cada dia, as condições de saúde pioram a cada dia."

O presidente argentino é o primeiro líder latino-americano a defender abertamente uma medida tão dura. Mas Macri, um político de centro-direita que conseguiu transformar a Argentina de um pária internacional em um dos astros emergentes da América Latina, disse que haverá "amplo apoio" em toda a região para tal medida draconiana, apesar das dificuldades que provocará.

"Temos falado sobre isso muitas vezes com muitas pessoas ao longo do último mês", disse ele ao "FT".

A crise econômica e financeira da Venezuela se aprofundou ultimamente, e o presidente Nicolás Maduro anunciou na semana passada que o país não poderá mais pagar o serviço de sua dívida externa, convocando os detentores de títulos a negociações em Caracas na próxima semana para discutir uma reestruturação.

Analistas esperam que a medida resulte em uma moratória desordenada nos próximos dias, o que agravará a situação já precária.

Considera-se improvável que os EUA bloqueiem todas as importações do cru venezuelano, pois isso criaria uma disrupção considerável em sua indústria de refino. As importações americanas de petróleo venezuelano são de aproximadamente 800 mil barris por dia, cerca de 8% das importações totais de cru do país no ano passado.

A Citgo, subsidiária americana da companhia estatal da Venezuela, PDVSA, é uma grande compradora do cru do país e emprega 3.500 pessoas em três refinarias na Louisiana e no Texas.

Em agosto, senadores dos Estados que têm refinarias na costa do Golfo escreveram a Trump advertindo que "sanções unilaterais" contra a Venezuela poderiam "prejudicar a economia dos EUA, reduzir a competitividade global de nossas empresas e aumentar os custos para nossos consumidores".

No entanto, o senador democrata Bill Nelson, da Flórida, escreveu na terça-feira uma carta aberta ao secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, pedindo-lhe que imponha sanções mais duras ao regime venezuelano e considere banir todas as importações desse país.

"A PDVSA [companhia de petróleo estatal] deveria ser uma fonte de riqueza para a população venezuelana, mas devido à corrupção do governo socialista e a anos de má administração tornou-se uma fonte de dinheiro para Maduro e seus amigos forrarem os bolsos", escreveu o senador. "Eu o incentivo a buscar apoio de nossos aliados europeus e impor sanções dirigidas e setoriais ao regime venezuelano."

O Grupo de Lima, um bloco regional de países criado neste verão para pressionar a Venezuela a convocar eleições livres, disse no final de outubro que mais sanções poderão ser necessárias para isolar o regime e apressar o retorno à democracia.

"Se necessário, devemos aumentar a pressão contra o regime de Maduro, tomando medidas concretas para isolá-lo ainda mais da comunidade internacional", disse a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, na última reunião do grupo, em Toronto.

Macri disse que o Grupo de Lima está fazendo um "bom trabalho" ao aplicar pressão diplomática contra a Venezuela. Mas "isso é tudo o que podemos fazer. Os EUA podem fazer mais", afirmou. "Eu cortaria os recursos de Maduro e o manteria isolado do resto da comunidade."


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