Folha de S. Paulo


Microdoações de eleitores financiam campanha à Prefeitura de Nova York

Bill de Blasio, reeleito como prefeito de Nova York na noite desta terça-feira (7), amparou sua campanha em contribuições de até US$ 175, ou R$ 570, valor de 70% das doações que recebeu de seus apoiadores.

O prefeito foi o primeiro democrata reeleito na cidade desde Edward Koch em 1985.

O democrata, que ignorou acenos de milionários em seus primeiros quatro anos no comando da maior metrópole americana, aparecia com cerca de 30 pontos de vantagem nas pesquisas —a previsão de fechamento das urnas era perto das 21h desta terça (0h de quarta em Brasília).

Eduardo Muñoz Alvarez - 3.nov.17/Getty Images/AFP
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, fala em entrevista coletiva com o comissário de polícia

Doações de eleitores contabilizadas até as últimas horas da votação respondem por 63% de um total de US$ 9,5 milhões, ou R$ 31 milhões, arrecadados pelo prefeito.

É duas vezes e meia o valor gasto pelo tucano João Doria em sua campanha pela prefeitura paulistana no ano passado, vencida no primeiro turno com R$ 12,3 milhões.

Mas há uma diferença crucial. Enquanto os nova-iorquinos elegem seu prefeito financiando a disputa do próprio bolso —sem intervenção de partidos e gastos mínimos do candidato—, o último vencedor em São Paulo teve só 36% de despesas de campanha bancadas por eleitores.

Doria gastou R$ 4,4 milhões de seu dinheiro e teve contribuições partidárias de R$ 3,5 milhões para se eleger, além de R$ 4,4 milhões angariados entre 268 apoiadores, com doações que variaram de R$ 2 a R$ 500 mil, sendo grande parte delas de R$ 2.500.

De Blasio nem pôs a mão no bolso —um possível parente, Ron de Blasio, doou US$ 50, segundo a prestação de contas— e pouquíssimos recursos dos PAC, comitês de ação política que representam lobbies e sindicatos.

Nas contas finais, considerando os 4,5 milhões de eleitores em Nova York e os 8,6 milhões em São Paulo, a eleição para prefeito custou R$ 16 para cada um na cidade americana e R$ 9 para cada votante da capital paulista.

FREIO À CORRUPÇÃO

O grosso dos recursos saiu das contas de 11,3 mil eleitores de De Blasio. Nenhuma doação, segundo regras do pleito na cidade, pode superar US$ 4.950, ou R$ 16,2 mil.

Em média, apoiadores do democrata desembolsaram US$ 527, cerca de R$ 1.730, embora a grande maioria das contribuições, segundo o órgão que regula finanças de campanha, tenha rondado os US$ 175.

Isso porque as regras incentivam doações até esse valor. O candidato que escolher receber dinheiro público para a campanha —ele pode não entrar no sistema e se financiar sozinho na disputa— recebe US$ 6 da prefeitura para cada US$ 1 doado até o teto de US$ 175 por doação.

"Nosso programa foi desenhado para que o candidato busque o apoio de seus próprios eleitores", diz Matt Stollars, porta-voz da agência reguladora. "Queremos diminuir o peso do dinheiro e evitar a corrupção no sistema."

No Brasil, desde as últimas eleições municipais, doações de empresas e outras entidades privadas são vetadas. Já pessoas físicas podem doar até 10% da renda declarada no ano anterior ao pleito.


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