Folha de S. Paulo


Trump promete armar o Japão contra a Coreia do Norte

Jonathan Erns/Reuters
O presidente dos EUA Donald Trump e o premiê japonês Shinzo Abe alimentam carpas em Tóquio
O presidente dos EUA Donald Trump e o premiê japonês Shinzo Abe alimentam carpas em Tóquio

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (6) no Japão que o tempo da "paciência estratégica" com a ditadura da Coreia do Norte acabou e sugeriu que irá armar o Japão para que o país possa derrubar os mísseis norte-coreanos.

"O programa norte-coreano é uma ameaça para o mundo civilizado e para a paz e a estabilidade internacionais", disse o americano em Tóquio, a primeira escala de uma viagem pela Ásia dominada pela crise com Pyongyang.

Trump já havia advertido em ocasiões anteriores que Washington poderia ir além da diplomacia para frear o programa de armas nucleares norte-coreano e considerar uma intervenção militar.

"A era da paciência estratégica acabou", afirmou durante em entrevista coletiva conjunta com o o anfitrião, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.

Trump sugeriu que os EUA irão armar o Japão, como o país já fez com seus aliados no Oriente Médio. Ele não negou relatos de que teria expressado frustração pelo fato de o Japão não ter derrubado um míssil balístico que a Coreia do Norte disparou sobre seu território.

"Ele irá tirá-los do espaço quando terminar a compra de um bocado de equipamento militar adicional dos EUA", afirmou Trump de sobre Abe, ao seu lado em entrevista coletiva.

Pela Constituição, o Japão só pode derrubar um míssil quando ele se dirigir diretamente contra o país ou quando destroços estiverem caindo sobre seu território. Mas membros do partido nacionalista de Abe afirmam que é possível também fazê-lo alegando que um míssil direcionado a Guam é uma ameaça existencial aos EUA, que é um aliado japonês.

O premiê expressou apoio à política americana. Nos últimos meses, em duas ocasiões mísseis norte-coreanos se aproximaram do território japonês.

"Respaldamos a política de Trump de manter todas as opções sobre a mesa", afirmou, antes de destacar que o Japão derrubará os mísseis norte-coreanos, "se necessário".

"Em tais casos, Japão e Estados Unidos manterão uma cooperação estreita", disse.

Abe anunciou ainda que Tóquio pretende "congelar os bens de 35 organizações e personalidades norte-coreanas", em uma lista adicional de sanções ao programa nuclear e de mísseis de Pyongyang, mas também relativa aos sequestros de japoneses pelos serviços secretos norte-coreanos nas décadas de 1970 e 1980.

Trump chegou ao Japão no domingo (5), em um momento de grande tensão com a Coreia do Norte, entre os temores de que o regime do ditador Kim Jong-un estaria planejando outro teste nuclear.

A viagem, a primeira de Trump como presidente ao leste da Ásia e a mais longa de um presidente americano à região em meio século, acontece após meses de escalada retórica entre Washington e Pyongyang.

O presidente americano iniciou a viagem com a advertência de que "nenhum ditador deve subestimar" os Estados Unidos.

Mas em uma entrevista a um canal de televisão, que já estava gravada e foi exibida no domingo, deixou a porta aberta para um encontro com o ditador Kim Jong-un, mas não imediatamente.

"Estaria disposto a fazer isto, mas veremos para onde isto vai. Eu penso que é muito cedo", disse, a respeito de uma eventual reunião com Kim, ao programa do TV "Full Measure".

A aguardada visita foi ofuscada pelo tiroteio em uma igreja do Texas, que deixou pelo menos 26 mortos, uma tragédia que Trump chamou de "espantosa".

No entanto, ele descartou debater o controle de armas nos Estados Unidos e atribuiu o caso a um problema mental do atirador..

"Temos um monte de problemas de saúde mental em nosso país, mas não é uma situação imputável às armas", afirmou durante a entrevista coletiva com Abe.


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