Folha de S. Paulo


Estatais russas financiaram investimento no Facebook e no Twitter

Empresas estatais russas financiaram investimentos no Facebook e no Twitter através de um investidor que é sócio do genro de Donald Trump.

Segundo as informações divulgadas pela imprensa internacional, o dinheiro das estatais russas VTB Bank e Gazprom foi usado para comprar ações das duas gigantes de tecnologia americana entre 2009 e 2011.

Nos dois casos, o dinheiro passou por empresas ligadas ao empresário russo Yuri Milner antes de chegar ao Twitter e ao Facebook. As ações já foram vendidas e não estão mais nas mão das empresas ligadas ao Kremlin.

Milner, um investidor especializado no Vale do Silício, já participou de um comitê de inovação da presidência russa.

Robert Galbraith - 20.fev.2013/Reuters
Mark Zuckerberg (esq.), fundador do Facebook, ao lado do investidor russo Yuri Milner
Mark Zuckerberg (esq.), fundador do Facebook, ao lado do investidor russo Yuri Milner

Ele também investiu na start-up americana Cadre, que tem como sócio-fundador Jared Kurshner, genro de Donald Trump e conselheiro da Casa Branca.

A revelação de que dinheiro ligado ao Kremlin foi usado para a compra de ações das empresas de tecnologia acontece no momento que os Estados Unidos investigam a interferência russa na eleição presidencial de 2016.

Entre os principais pontos do caso está a compra de anúncios e a criação de perfis falsos no Twitter e no Facebook por hackers russos para interferir na votação e ajudar Trump.

Os investimentos russos nas duas empresas foram liquidados antes do início da campanha eleitoral americanas.

As informações foram divulgada neste domingo (5) por uma coalizão internacional de jornalistas, que teve acesso as informações de líderes políticos, empresários e celebridades ligados a uma empresas offshore.

Os dados foram vazados por uma fonte anônima para o jornal alemão "Süddeutsche Zeitung", que compartilhou as informações com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) e quase cem veículos de comunicação no mundo, entre eles o jornal americano "New York Times" e o britânico "Guardian", em uma série chamada "Paradise Papers".

A maior parte dos 13,4 milhões de arquivos divulgados é da Appleby, empresa especializada na criação de offshores.

INVESTIMENTO

A informação de que Milner tinha investido nas empresas já era de conhecimento público, mas não se sabia que parte da verba usada vinha de estatais russas. Ele chegou a ter sob seu controle 5% do Twitter e 8% do Facebook —atualmente ele não tem mais dinheiro investido nas companhias.

Nos dois casos, o dinheiro chegou às empresas americanas através da DST Global, fundo de investimento controlado por Milner.

O VTB —segundo maior banco do país— pagou US$ 191 milhões (R$ 630 milhões) para a DST Investiments 3, que investiu o valor em papéis do Twitter.

Já uma subsidiária da Gazprom emprestou US$ 920 milhões (R$ 3 bilhões) para a Kanton, empresa dona da DST USA II. Esta última, por sua vez, comprou cerca de 78 milhões ações do Facebook.

Tanto a DST Investiments 3 quanto a DST USA II são ligadas ao DST Global, controlado por Milner.

A Kanton é ligada, por sua vez, ao oligarca russo russo-uzbeque Alisher Usmanov, que é próximo de Dmitri Medvedev, atual premiê, ex-presidente russo (2008-2012) e um dos principais aliados de Vladimir Putin.

O Facebook e o Twiiter disseram ao "Guardian" que os investimentos de Milner já foram encerrados e que elas não tinham conhecimento que a verba tinha origem no Kremlin.

O VTB e a Gazprom afirmaram que os investimentos eram oportunidades de negócios que geraram lucro. Ao "New York Times", Milner foi pelo mesmo caminho e disse que o investimentos "não eram mais do que negócios".

RAINHA

Outros líderes também aparecem na lista, como a rainha britânica Elizabeth 2ª.

Documentos mostram que parte da fortuna pessoal dela está em paraísos fiscais e foi usada para investir na rede varejista BrightHouse, empresa acusada de violar uma série de leis de proteção aos consumidores no Reino Unido.

Não há, porém, indício de ilegalidade. A rainha disse desconhecer o alvo dos investimentos, feitos há 12 anos.

Em nota, a Transparência Internacional comemorou as novas revelações e disse que elas mostram que o atual sistema de controle internacional está "quebrado" e que as autoridades devem agir para melhorar a fiscalização.

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LÍDERES CITADOS
Vazamento mostra autoridades ligadas a investimentos em paraísos fiscais

Justin Trudeau
Stephen Bronfman, amigo de infância e tesoureiro de campanha do premiê canadense, usou empresas em paraísos fiscais para evitar o pagamento de impostos no Canadá, nos Estados Unidos e em Israel

Elizabeth 2ª
Parte da fortuna da rainha britânica foi usado em paraísos fiscais; uma parte do dinheiro foi investido na BrightHouse, empresa com histórico de violações dos direitos do consumidor no Reino Unido

Yuri Milner
Fundos controlados pelo investidor russo, especializado no Vale do Silício, compraram ações do Facebook e do Twitter após receberem aporte de duas empresas estatais da Rússia, o VTB e a Gazprom

Vladimir Putin
Diversos nomes ligados ao presidente russo aparecem nos documentos; entre eles o seu genro, Kirill Shamalov, e os empresários Milner e Alisher Usmanov, além da presença de estatais do país

Wilbur Ross
O secretário de Comércio dos Estados Unidos controla indiretamente a Navigator, do setor de navegação, que tem uma parceira com uma empresa que tem como sócio o genro do presidente russo

Blairo Maggi
O ministro brasileiro da Agricultura é beneficiário de uma empresa das Ilhas Cayman feita entre a companhia de sua família, a Amaggi, e a Louis Dreyfus, gigante holandesa da área de commodities


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