Folha de S. Paulo


Salvo por interdições pontuais, Nova York retoma rotina após ataque

Ela estranhou a falta de flores. Diante do bloqueio policial na rua West, onde um terrorista atropelou e matou oito pessoas, Wolfcaruis Inge se esforçava para ver ao longe a caminhonete destruída.

"Não tem nada, só policiais aqui, nenhuma homenagem", dizia a turista belga, ao lado das duas filhas. "Uma mulher de uma cidade perto da nossa morreu ali. Ela tinha dois filhos pequenos."

Shannon Stapleton/Reuters
Ciclista chora ao homenagear as vítimas no dia seguinte ao ataque terrorista em Nova York
Ciclista chora ao homenagear as vítimas no dia seguinte ao ataque terrorista em Nova York

Enquanto Inge decidia se seguia adiante com os planos do dia, de subir a torre One World, construída sobre os destroços do World Trade Center destruído nos ataques de 11 de setembro de 2001, outros fotogravam as luzes dos carros de polícia brilhando no horizonte, rodeando o que sobrou do veículo usado em mais um ato terrorista.

Mas a cidade de Nova York, fora as ruas interditadas e um trânsito pior do que o habitual, parecia a mesma.

A faculdade e as escolas de frente para a ciclovia onde ocorreu o atentado estavam em aula, professoras tentando controlar crianças agitadas na hora do recreio.

Vídeo mostra fuga de atropelador

Na porta do Borough of Manhattan Community College, de onde foram gravadas algumas das imagens mais chocantes da tragédia, Weihao Chen esperava o momento de subir para mais uma aula.

"Mandaram um e-mail dizendo que tudo estaria normal", disse o estudante dominicano. "Mas eu deveria estar preocupado. Acontecem coisas assim na América."

Os arranha-céus de escritórios do sul da Manhattan, onde fica a prefeitura, o World Trade Center, a Bolsa de Valores e o distrito financeiro, também vibravam num vaivém de engravatados.

"Meus filhos estudam na escola do outro lado da ciclovia", dizia um deles, que não quis ser identificado, na porta de um prédio corporativo na rua West.

"Só me acalmei quando soube que eles e minha mulher estavam bem, mas agora nada parece ameaçador com tantos policiais."

Uma invasão de vans dos canais de notícias também mudou a paisagem do bairro, transformada em mar de antenas, tripés e câmeras.

COINCIDÊNCIA

Mas outro ponto chamava mais a atenção. Numa coincidência macabra, a rua West termina no memorial às vítimas do 11 de Setembro.

Se não tivessem morrido atropeladas, as oito vítimas do atentado desta terça chegariam até as piscinas construídas sobre as fundações das Torres Gêmeas.

Na porta da torre agora iluminada com as cores da bandeira dos Estados Unidos, Jesús Acevedo estranhava o vazio. "É um dia calmo demais, não tem ninguém", dizia o rapaz, que coordena as filas. "Pode ser só o tempo feio, mas pode ser pelo que aconteceu."

Minutos depois, policiais da divisão antiterrorista foram levar flores para decorar uma árvore ali que sobreviveu aos atentados de 2001.

Editoria de Arte/Folhapress

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ATAQUES EM NOVA YORK

6.mar.2008
Uma bomba caseira atingiu o Centro de Recrutamento das Forças Armadas na Times Square. A munição usada na bomba era a mesma empregada nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Não houve feridos, e o autor do ataque é até hoje desconhecido

25.mai.2009
Kyle Shaw, 17, colocou uma bomba caseira em uma cafeteria do Starbucks em Upper East Side Manhattan. Não houve mortes. O ataque teria sido um tributo ao filme "Clube da Luta". O adolescente foi condenado a três anos e meio de prisão em novembro de 2010

1º.mai.2010
Faisal Shahzad tentou explodir um carro-bomba na Times Square, no entanto a tentativa fracassou. Ele foi preso mais tarde em um voo que ia para Dubai. Shahzad foi condenado à prisão perpétua em outubro de 2010

23.out.2014
Zale Thompson, 32, feriu dois policiais do Departamento de Polícia de Nova York em um ataque com uma machadinha no distrito de Queens. A polícia abriu fogo, matando Thompson e ferindo um civil.
Thompson já havia sido preso seis vezes e chegou a fazer parte do Exército americano

17-19.set.2016
Quatro explosões ou tentativas de explosões na região metropolitana de Nova York deixaram 31 feridos. Ahmad Khan Rahimi foi identificado como suspeito e detido em Nova Jersey após um tiroteio que deixou três policiais feridos

20.mar.2017
James Harris Jackson, 28, viajou de Maryland para Nova York com o objetivo de matar homens negros e assim criar um espetáculo na mídia, segundo a polícia. Ele matou o morador de rua Timothy Caughman, 66, com uma espada em Midtown Manhattan


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