Folha de S. Paulo


Análise

Novo Politburo chinês joga a favor de controle de poder de Xi Jinping

Uma quebra das regras não escritas do Partido Comunista Chinês nos últimos 30 anos e uma demonstração de que o presidente chinês ficará no poder mais tempo do que o previsto.

São essas as leituras iniciais ensejadas pela formação do novo Comitê Permanente do Politburo, o órgão máximo que, de fato, governa a China.

Lan Hongguang/Xinhua
O líder chinês, Xi Jinping, chega a reunião de delegados do Partido Comunista nesta quarta em Pequim
O líder chinês, Xi Jinping, chega a reunião de delegados do Partido Comunista nesta quarta em Pequim

Como não há entrevistas coletivas ou explicações para a sociedade na ditadura chinesa, a análise se faz pelo perfil dos cinco novos integrantes (de um total de sete) do comitê.

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Xi Jinping não está apressado em escolher um sucessor ou em dividir poder.

Todos os cinco novos nomeados têm mais de 60 anos de idade.

Como Xi, em teoria, deixará a presidência em 2022, todos estarão próximos da idade de 68 anos, quando a tradição do Partido Comunista manda as autoridades se aposentarem.

Da última composição do Politburo, só permanecem o próprio Xi e seu apagado primeiro-ministro, Li Keqiang.

Dos cinco novos integrantes, três devem sua proeminência à proximidade com Xi.

Um era seu chefe de gabinete, Li Zhanshu. Outro é Wang Huning, um acadêmico, que dirige o Centro de Pesquisa Política do Partido, e que escreveu algumas das teorias hoje atribuídas a Xi (e que acabam de ser incorporadas à Constituição do partido). É considerado um dos assessores mais ouvidos pelo presidente.

Zhao Leji já tinha sido nomeado pelo próprio Xi como secretário-geral do PC na Província de Shaanxi (terra natal da família do líder máximo) e agora ocupará o estratégico posto de comandante da luta anticorrupção, uma das bandeiras do atual governo.

Dos sete membros, só dois parecem ter estrela própria. Hang Zheng é o chefe do partido e ex-prefeito de Xangai, onde passou toda a sua carreira. É o nome mais pró-livre mercado e que cresceu na nomenclatura por sua proximidade com Jiang Zemin, ex-presidente chinês. Mas Xangai não costuma ter muito peso político em Pequim.

O antecessor de Xi, Hu Jintao, passou quase cinco anos sem visitar a cidade porque não se dava com os caciques locais.

O outro mais independente é o reformista Wang Yang, que foi secretário-geral de Guangdong, o maior e mais rico Estado chinês (menor que o Estado do Paraná, tem 105 milhões de habitantes e é a maior potência exportadora do país).

Wang até tinha fama de ser mais permissivo com a imprensa local, a mais crítica e menos censurada do país, quando era o chefe por lá.

Controlando claramente cinco votos de um grupo de sete, já até se especula se Xi romperia com a tradição de dez anos de mandato dos últimos líderes chineses.

Foi Deng Xiaoping, o maior nome da abertura chinesa, que decidiu que o partido precisava exorcizar as loucuras e o banho de sangue da era Mao Tsé-tung.

Os comunistas seriam liderados por engenheiros tecnocratas, sem carisma, em politburos muito diversos, com membros de facções variadas e de províncias bem diferentes, para que ninguém mais pudesse mandar sem contrapesos e obstáculos. Criar consensos seria a norma.

Ao que parece, Xi acredita que a memória dos dias de Mao já passou —e quer mandar sozinho.

Apesar de estar longe das reformas que prometeu (dar eficiência e reduzir o tamanho das estatais, aumentar o consumo interno, regularizar o sistema financeiro e o endividamento das províncias), Xi já conseguiu acabar com a política do filho único , multiplicar a influência e os investimentos chineses no exterior , e se equilibrar entre um discurso muito nacionalista para o público interno e pró-globalização para plateias internacionais.

Deng, o gigante político que conseguiu colocar ordem na China finda a Revolução Cultural (1966-76), também pensou na renovação —ainda que só tenha saído de cena aos 88 anos, sendo o líder do país entre 1978 e 1992.

Seu antecessor, Mao Tsé-tung, tinha morrido no cargo, aos 82. A partir dele, os líderes chineses teriam uma idade limite para sair de cena. É esse arranjo que Xi agora ameaça não seguir.

Editoria de Arte/Folhapress
QUEM É QUEMComo ficou o Comitê Permanente do Partido Comunista chinês

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