O 19º Congresso do Partido Comunista Chinês provocou muitos comentários, mas o que significa de fato? Congressos de partidos tratam essencialmente de três coisas: a primeira é liderança, assessores e poder; a segunda é ideologia; e a terceira, visão política.
Na primeira, o presidente Xi Jinping reforçou ainda mais sua posição. Hoje ele é o líder supremo da China.
Aly Song/Reuters | ||
Cartaz com foto do líder chinês, Xi Jinping, que ficará mais cinco anos no comando do país, em Xangai |
Cinco anos atrás eu disse que ele seria o líder mais chinês poderoso desde Deng Xiaoping. Estava enganado. Hoje ele é o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-tung.
Xi manteve punho de ferro sobre o partido durante uma campanha contra a corrupção que teve 278 mil autoridades punidas, 440 em nível ministerial e acima, incluindo muitos adversários no birô político.
Este congresso indica que Xi continuará sendo o líder máximo da China além dos próximos cinco anos, e possivelmente pelos próximos 15. Seu discurso-maratona na semana passada enfatizou a conclusão da próxima missão nacional da China até 2035, parte do progresso para se tornar uma grande potência global até meados do século. A inferência é que veremos Xi no cargo até 2030.
E sua ideologia? Xi afirma que a China continuará sendo governada permanentemente por um partido leninista controlando um Estado unipartidário. Supor, como fizeram alguns no Ocidente, que a China se transformará gradualmente em uma democracia parecida com Singapura ou no estilo ocidental é material para sonhos.
Xi delineia dois grandes objetivos: de 2020 a 2035, a China se tornará uma economia e uma sociedade "totalmente moderna"; isto será seguido de mais 15 anos, até 2050, em que a China concretizará sua busca por riqueza nacional e poder, assumindo a posição de grande potência.
Isso coincide com o centenário da fundação da República Popular, em 1949. Então Xi planeja que a China terá se tornado "um líder global de força nacional composta e influência internacional".
Sobre o papel da China no mundo, devemos examinar o discurso de Xi em novembro de 2014. Ele falou sobre um novo tipo de relações entre grandes potências, com uma nova paridade entre EUA e China; um novo sistema internacional cujas regras subjacentes serão cada vez mais moldadas pela China; e uma diplomacia chinesa mais ativa e assertiva.
A história chinesa oferece pouca orientação sobre como a China deverá agir como potência global. A maior parte da historiografia nacional se concentra na governança doméstica e em como impedir a entrada de estrangeiros no país.
Embora seja difícil discernir a forma exata do que Xi chama de "comunidade global de destino comum para toda a humanidade", a mensagem é clara: preparem-se para uma nova onda de ativismo político internacional chinês.
A terceira dimensão são as políticas. Aqui, a questão central é a economia. Xi assumirá o desafio de implementar o projeto de reforma econômica do partido de 2013 para transformar o país de uma potência manufatureira, com salários baixos e mão de obra intensiva, baseada em exportações, em um modelo econômico de altos salários, baseado no crescimento da produtividade conduzido pela tecnologia e um setor de serviços explosivo?
Se o fizer, o dividendo econômico em longo prazo para a China será a confirmação de sua posição como maior economia do mundo.
A lista do que poderá dar errado no projeto político de Pequim é formidável. Mas seria insensato assumir, como fazem muitos em Washington, que a transição chinesa para a preeminência global implodirá sob o peso das contradições políticas e econômicas supostamente inerentes ao modelo chinês.
O Ocidente precisa refletir sobre sua própria condição. Desde a queda da União Soviética, houve pouca direção estratégica sobre a ideia do Ocidente em si, e os elementos vitais do projeto capitalista e liberal-democrata.
Pelo contrário, o Ocidente está cada vez mais autoabsorvido, autossatisfeito e globalmente complacente. A China marcha para sua visão de destino global. Ela tem uma estratégia. O Ocidente não tem.
KEVIN RUDD foi primeiro-ministro da Austrália e é presidente do Instituto de Políticas da Sociedade Ásia, em Nova York.
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES