Folha de S. Paulo


Presidente catalão acusa Espanha de tentar "liquidar democracia"

Yves Herman/Reuters
Catalan President Carles Puigdemont meets with members of the Independent Comission for Mediation and Dialogue, at the Palau de la Generalitat, the regional government headquarters in Barcelona, Spain, October 6, 2017. REUTERS/Yves Herman ORG XMIT: MAD118
O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont

Hora após o governo espanhol anunciar seus planos de destituir a administração catalã, o presidente da região, Carles Puigdemont, discursou no fim da tarde deste sábado (21) convocando uma reunião parlamentar de emergência na segunda-feira.

O líder separatista não voltou a ameaçar, no entanto, com uma declaração formal de independência -o que poderia ter agravado a crise. O Ministério Público espanhol estuda acusá-lo de rebelião, o que pode resultar em até 30 anos de prisão.

Ele se referiu às "tentativas de liquidar nosso autogoverno e democracia". O premiê espanhol, Mariano Rajoy, havia dito que retirará Puigdemont do cargo como punição por seu desafio separatista, assim como seu vice e o resto de seu gabinete.

"Todas as propostas de diálogo tiveram a mesma resposta: silêncio e repressão", disse no discurso. "O que os catalães decidiram nas urnas, os espanhóis anulam em seus escritórios."

Puigdemont afirmou ainda que a ativação do Artigo 155 da Constituição, que prevê a intervenção de Madri no governo catalão, é o "pior ataque" à gestão da região desde os anos da ditadura de Francisco Franco (1939-1975), durante os quais houve violenta repressão do nacionalismo -e a língua catalã foi restrita no espaço público.

"O governo espanhol se proclamou, de maneira ilegítima, como representante dos catalães", disse. No fim de sua fala, Puigdemont discursou em inglês e se dirigiu à União Europeia, dizendo que a Catalunha corre risco.

ELEIÇÕES

As medidas anunciadas por Madri neste sábado, incluindo a remoção de Puigdemont, ainda precisam passar por trâmites legais e serem votadas pelo Senado, o que deve acontecer na sexta-feira (27).

É preciso ter maioria absoluta, algo já garantido pelo governo.

O premiê Rajoy também planeja convocar eleições antecipadas na Catalunha, a princípio em até seis meses.

A autonomia catalã não foi suspensa, no entanto, nem seu Parlamento foi dissolvido -apesar de que sua atividade legislativa deve ser limitada neste período.

Em protesto às medidas, dezenas de milhares de pessoas se reuniram em Barcelona, a capital catalã.

Eles foram às ruas também para criticar a detenção de dois líderes separatistas durante a semana, acusados de sublevação pelo Estado espanhol.

Esta crise, a pior desde a redemocratização da Espanha nos anos 1970, teve início no plebiscito separatista de 1º de outubro.

Cerca de 43% do eleitorado votou, com 90% deles apoiando a independência -mas Madri considera que a consulta foi ilegal e, portanto, é inválida.


Endereço da página:

Links no texto: