Folha de S. Paulo


Partido de ultradireita pode ter poder de determinar coalizão na Áustria

As eleições legislativas da Áustria serão marcadas no domingo (15) pelo mesmo movimento que acompanhou os últimos pleitos no resto da Europa: o ultranacionalismo de direita.

A sigla populista FPÖ (Partido da Liberdade Austríaco) deve ter a segunda maior bancada do Parlamento, atrás do conservador ÖVP (Partido Popular), e pode entrar para o próximo governo.

Leonhard Foeger - 1.set.2017/Reuters
Militantes levam faixas com as frases
Militantes levam faixas com as frases "sempre fiel à Áustria" e "Áustria merece equidade" a ato do FPÖ

Não seria a sua primeira vez. O FPÖ fez parte de uma coalizão conservadora em 2000, resultando em sanções diplomáticas da União Europeia e de Israel. Mas o cenário preocupa mais neste ano.

Uma das razões é que uma segunda experiência do FPÖ no governo ajudaria a normalizar esse tipo de movimento radical na Áustria e no restante do continente.

Isso preocupa porque, apesar de o partido insistir em se distanciar de posições vinculadas ao nazismo, ainda existe desconfiança.

Seu líder, Heinz-Christian Strache, por exemplo, já disse publicamente que o antissemitismo é um crime e já visitou um memorial às vítimas do Holocausto em Israel. Mas, por outro lado, foi detido em sua juventude por participar de um protesto de um grupo neonazista ilegal.

Um membro do partido foi recentemente suspenso por ter supostamente feito um gesto saudando Adolf Hitler durante uma reunião oficial.

Em pesquisa publicada na terça (19) pelo jornal "Österreich", o FPÖ aparece com 27%, seis pontos a menos que o ÖVP. O terceiro é o SPÖ (Partido Social Democrata), com 23%. A sondagem foi feita com mil pessoas entre os dias 6 e 8 e tem margem de erro de 3 pontos percentuais.

Outros partidos populistas europeus tiveram bom desempenho nos últimos anos, mas o sucesso era amenizado pela recusa dos demais em inclui-los em suas coalizões.

Foi o caso da Alemanha, onde a chanceler Angela Merkel rejeitou qualquer aliança com a sigla AfD (Alternativa para a Alemanha), terceira colocada na eleição.

A diferença é que, na Áustria, ÖVP e SPÖ não descartam uma coalizão com o FPÖ, já que ambos precisam de aliados se quiserem governar. Nesse cenário, os ultranacionalistas podem ter inclusive o poder de decidir quem será o próximo premiê.

Mesmo que não entre no governo, o FPÖ já marcou as campanhas eleitorais deste ano. O discurso xenófobo trouxe a migração ao coração do debate, como fizeram outros populistas nas eleições recentes na Europa.

VISEGRAD

O FPÖ â€”assim como a alemã AfD ou a francesa Frente Nacional — baseia a sua plataforma na aversão aos estrangeiros e ao islamismo.

Suas propostas incluem impedir estrangeiros de receber benefícios sociais e levar a Áustria para o Visegrad, que inclui Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia —países em atrito com a União Europeia (UE) devido à política migratória.

Fundada após a Segunda Guerra Mundial por Anton Reinthaller, ex-membro do grupo paramilitar nazista SS, a sigla quase chegou à Presidência em 2016, mas foi derrotada pelo verde Alexander Van der Bellen em uma disputa acirrada.


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