Folha de S. Paulo


Airbnb cancela reservas em Pequim devido a evento do Partido Comunista

A Airbnb, a maior plataforma mundial de partilha de hospedagem, cancelou todas suas reservas para a região central de Pequim pelo restante do mês de outubro. As autoridades chinesas estão reforçando seu controle sobre a cidade antes do congresso do Partido Comunista, que terá lugar na próxima semana.

O encontro político realizado a cada cinco anos será aberto em 18 de outubro e vai assinalar o início de um segundo mandato de cinco anos do presidente chinês Xi Jinping, que deve anunciar uma nova equipe de liderança nacional.

A segurança intensificada está levando ao fechamento de lojas e ruas, atrapalhando a atividade comercial na capital.

Sem explicar as razões, a Airbnb disse que novas reservas na região abrangida dentro do perímetro do sexto anel rodoviário da capital só estarão disponíveis a partir do início de novembro. Com isso, foram canceladas todas as reservas em um raio de 20 km da praça Tienanmen, onde o congresso do Partido terá lugar.

Isso deixa apenas 1% das ofertas de hospedagem em Pequim disponíveis pelo restante do mês, segundo o site da empresa. Os anfitriões foram informados na terça-feira por mensagem de texto.

"De modo semelhante às iniciativas de outras empresas de hospitalidade, as ofertas de hospedagem da Airbnb em certas áreas de Pequim ficarão temporariamente indisponíveis em outubro", disse a Airbnb. "Os hóspedes com reservas para esse período receberão reembolso total dos valores pagos."

Mais de três quartos dos 21 milhões de habitantes de Pequim vivem dentro da área circundada pelo sexto anel rodoviário, segundo o governo local.

"Durante esse evento politicamente sensível, Pequim ficará fechada para garantir que não ocorram incidentes que possam desviar as atenções das mudanças no poder", disse Carly Ramsey, diretora associada da consultoria de risco Control Risks.

William Bao Bean, sócio do fundo de capital de investimentos SOSV, pensa que foi uma decisão prática. "Não é aconselhável que pessoas possam alugar apartamentos em andares altos, com vista para o centro da cidade, durante o congresso do Partido", ele opinou.

A China monitora estreitamente os visitantes do exterior, obrigando os hotéis a manter um registro dos documentos de identidade de seus hóspedes e automaticamente cadastrar os hóspedes junto ao birô local de segurança pública. Estrangeiros precisam se apresentar à polícia local quando se hospedam em casas de amigos.

Mas o setor nascente da partilha de casas e apartamentos cria uma brecha nesse sistema de rastreamento, já que é possível reservar acomodações sem verificar a identidade do hóspede. Os aplicativos usados não obrigam os anfitriões a cadastrar seus hóspedes junto à polícia local, apesar de a lei exigir que o façam.

"A China tende a dar bastante margem de manobra a empresas de tecnologia. Geralmente ela observa primeiro e regula depois", disse Bean. "Mas não há negociação em certos casos, como o do congresso do Partido."

Carly Ramsey explicou: "A implementação regulatória é uma questão política e também legal na China. O governo pode mandar empresas suspender suas operações, e às vezes o faz. Empresas estrangeiras geralmente são pegas de surpresa e passam por dificuldades, tendo que lidar com semanas sem receber nenhuma receita."

A plataforma chinesa de partilha de hospedagem Tujia também confirmou que "a grande maioria das ofertas de hospedagem em Pequim não está disponível antes do início de novembro".

A empresa rival chinesa Xiaozhu não tem reservas disponíveis no centro de Pequim pelo restante de outubro.

O crescimento acelerado da Airbnb, a segunda mais valiosa empresa privada americana, a levou a ter problemas frequentes com reguladores chineses.

Tradução de CLARA ALLAIN


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