Folha de S. Paulo


Com turbulência em Washington, Trump faz comício com caminhoneiros

Alex Brandon/Associated Press
O presidente dos EUA, Donald Trump, ao desembarcar em Harrisburg, na Pensilvânia
O presidente dos EUA, Donald Trump, ao desembarcar em Harrisburg, na Pensilvânia

Enquanto Washington pegava fogo, e no dia em que sofreu o mais duro ataque de seu ex-estrategista-chefe, Donald Trump viajou com a esperança de fazer avançar uma de suas poucas promessas de campanha que podem vingar.

Nesta quarta (11), quando chegava a Harrisburg, na Pensilvânia, onde defendeu sua reforma tributária diante de mil caminhoneiros, Trump não sabia, mas Stephen Bannon, dispensado da Casa Branca, estimava em 30% a chance de o republicano concluir o mandato, alertando, em entrevista à "Vanity Fair", que o ex-chefe poderia sofrer um impeachment.

No rastro de uma troca de farpas com aliados e ex-aliados como Bannon, que caiu depois do atentado em Charlottesville, Trump tenta se reaproximar de seus eleitores mais fervorosos, grupo que chama de "minha gente".

Essa foi a quarta parada de uma turnê para apresentar as mudanças que pretende fazer na área econômica, depois de passar por Missouri, Indiana e pela Dakota do Norte, Estados onde senadores democratas em fim de mandato são os mais vulneráveis na eleição legislativa do ano que vem.

Um de seus principais argumentos na hora de vender a reforma é o fato de que a típica família americana, segundo a equipe econômica, pode vir a pagar até US$ 4.000 (R$ 12,6 mil) a menos de imposto de renda por ano.

Mas isso, na visão de economistas, ainda não está claro. Muitos afirmam que os cortes de Trump, na verdade, vão beneficiar os mais ricos.

Uma análise do Urban-Brookings Tax Policy Center, um "think tank" para assuntos tributários em Washington, calcula que os milionários veriam sua renda aumentar em até 10% ao ano com a medida, enquanto os mais pobres teriam, no máximo, 1,2% de dinheiro a mais no bolso.

DESCONTO PARA RICOS

Outros pontos da reforma são o fim do imposto sobre propriedades, o corte de taxas corporativas e a desburocratização do procedimento de repatriação de fundos que estão no exterior, o que também agrada aos mais ricos. Democratas atacam o plano.

"O que os republicanos querem não é uma reforma tributária, mas um grande desconto de impostos para os mais ricos, às custas da classe média", disse o senador Bob Casey. "O Congresso deveria trabalhar de forma bipartidária para reformar o código fiscal de modo a ajudar as famílias, em vez de aprovar esse esquema ruim para classe média e trabalhadores."

Diferenças à parte, tudo pode dar errado se Trump não deixar de se digladiar por meio de bravatas em redes sociais com sua própria equipe e correligionários, entre eles o senador republicano Bob Corker e o secretário de Estado, Rex Tillerson.

Suas brigas mais recentes vêm minando qualquer possibilidade de implementar pontos de sua agenda, como a reforma do sistema de saúde, que ainda está travada.

Enquanto não avança sua tentativa de desmontar o Obamacare, implementado por seu antecessor na Casa Branca, Trump vê a reforma tributária, agora ameaçada por seu comportamento errático, como única possibilidade de sucesso, em seu primeiro ano de governo, na concretização de promessas de campanha.

Também se trata de um dos poucos assuntos da pauta política atual sobre os quais o presidente e as alas mais moderadas dos republicanos concordam. O avanço da reforma nos impostos pode, na visão de analistas, sanar as fraturas internas da legenda.


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