Folha de S. Paulo


Declaração de independência catalã gera caos entre aliados e opositores

A sessão no Parlamento catalão onde seria declarada a independência da Catalunha (a qual, para ter validade jurídica, deveria ser votada em plenário) teve dois atos e terminou sem consenso entre analistas, políticos, meios de comunicação e a população em geral.

O presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, declarou ambiguamente a independência às 19h39; oito segundos depois, suspendeu seus efeitos para pedir "diálogo''. Aplaudido apenas por seu grupo, Junts Pel Sí, Puigdemont teria desagradado à CUP, partido radical com o qual conseguiu maioria parlamentar e que pedia a proclamação da república catalã imediatamente.

Ivan Alvarado/Reuters
Manifestantes pró-independência assistem à declaração do presidente catalão, Carles Puigdemont
Manifestantes pró-independência assistem à declaração do presidente catalão, Carles Puigdemont

A reação das cerca de 30 mil pessoas reunidas nas imediações do Parlamento (segundo dados da Prefeitura de Barcelona) foi instantânea, em uma mensagem da juventude da CUP: "No Passeig de Sant Joan se respira raiva e indignação. Milhares de pessoas feridas para isso? Vocês não têm vergonha, Junts Pel Sí''.

Já a prefeita de Barcelona, Ada Colau, parabenizou o líder catalão pela disposição ao "diálogo" e à "mediação".

Entretanto, terminada a sessão, Junts Pel Sí, CUP e membros do governo de Puigdemont assinaram, a portas fechadas, documento com os termos da declaração sem menção a qualquer suspensão.

Por seus canais oficiais, o diretório nacional da CUP confirmou que o grupo fechava sua posição sem concessões e sem especificar para que seria então o "diálogo" pedido na sessão que acabara pouco antes.

Em entrevista coletiva, a CUP confirmou que a suspensão foi "política" e que a posição do grupo é a que está no papel e que irá a plenário em, no máximo, um mês.

Para analistas, a sessão foi um estratagema para ganhar tempo, evitando uma declaração unilateral com o risco de suspensão da autonomia e até de prisão.

A reação da oposição foi irregular: o Ciudadanos, partido que garante maioria ao governo central no Parlamento espanhol, fez uma crítica dura e exigiu novas eleições regionais; já o socialista PSC fez um discurso ecumênico, impressionado com o diálogo inicialmente proposto por Puigdemont; o conservador PP, o partido do governo central, admitiu que não entendeu o que estava propondo o líder catalão, mas que em todo caso não aceitaria independência em nenhuma circunstância.

Horas depois, à medida que se conhecia a íntegra do documento, o"El País" publicou editorial classificando a sessão de "armadilha" e "golpe à democracia". Na TV3, afinada com o independentismo, debatedores chamaram a atenção para o foco internacional no discurso do líder catalão.


Endereço da página:

Links no texto: