Folha de S. Paulo


Leia discurso no qual líder catalão declara independência e volta atrás

Albert Gea/Reuters
Catalan President Carles Puigdemont (C) is applauded after delivering a speech in the Catalonian regional parliament in Barcelona, Spain, October 10, 2017. REUTERS/Albert Gea ORG XMIT: PDH170
Líder catalão Carles Puigdemont é aplaudido após discursar ao Parlamento regional nesta terça (10)

Em discurso ao Parlamento catalão nesta terça-feira (10), o presidente da Generalitat (o governo regional da Catalunha), Carles Puigdemont, confundiu políticos, autoridades e a população ao declarar independência da região e, na sequência, pedir a suspensão da medida para abrir espaço ao diálogo.

"Chegado este momento histórico, e como presidente da Generalitat apresento, ao mostrar os resultados do plebiscito perante o Parlamento e aos nossos concidadãos, o mandato do povo para que a Catalunha se torne um Estado independente sob a forma de uma república", disse ele em sua fala.

Logo depois, porém, o discurso de Puigdemont mudou de tom. "E com a mesma deferência o Governo e eu mesmo propomos que o Parlamento suspenda os efeitos da declaração de independência para que nas próximas semanas façamos um diálogo sem o qual não é possível chegar a uma solução de comum acordo".

Leia abaixo todo o trecho do discurso no qual Puigdemont declara a independência e depois pede a suspensão da medida.

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"Como se sabe, a Lei do Plebiscito estabelece que dois dias após a proclamação oficial dos resultados e no caso do número de votos 'sim' ter sido superior ao número de votos 'não', o Parlamento (e cito textualmente a lei) 'realizará uma sessão ordinária para fazer uma declaração formal da independência da Catalunha e seus efeitos e dar início ao processo constituinte.

Há um antes e um depois de 1º de outubro [data do plebiscito] e conseguimos aquilo que tínhamos nos comprometido a fazer no início da legislatura.

Chegado este momento histórico, e como presidente da Generalitat [o governo regional da Catalunha], apresento, ao mostrar os resultados do plebiscito perante o Parlamento e aos nossos concidadãos, o mandato do povo para que a Catalunha se torne um Estado independente sob a forma de uma república.

Isto é o que hoje é preciso fazer. Por responsabilidade e por respeito. E com a mesma deferência o Governo e eu mesmo propomos que o Parlamento suspenda os efeitos da declaração de independência para que nas próximas semanas façamos um diálogo sem o qual não é possível chegar a uma solução de comum acordo. Acreditamos firmemente que o momento demanda não aumentar a escalada da tensão, mas acima de tudo, clara vontade e compromisso de avançar as demandas do povo da Catalunha a partir dos resultados de 1º de outubro. Resultados que devemos ter na cabeça, de forma essencial, no estágio de diálogo que estamos prontos para abrir.

É sabido desde o dia seguinte do plebiscito que se colocaram em movimento diferentes iniciativas de mediação, de diálogo e de negociação a nível nacional, estadual e internacional. Algumas delas são públicas e outras ainda não. Todas são muito sérias e há pouco tempo era difícil imaginá-las. As chamadas ao diálogo e a não-violência se fizeram ouvir em todos os rincões do planeta; a declaração de ontem do grupo de oito Prêmios Nobel da Paz; a declaração do The Elders, tendo a frente o ex-secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan e a participação de personalidades de grande relevância mundial; as declarações de presidentes e primeiros-ministros de países europeus, de líderes europeus...há um pedido de diálogo que percorre toda a Europa, porque a Europa já se sente questionada sobre os efeitos que pode ter uma resolução ruim para este conflito.Todas essas vozes merecem ser escutadas. E todas, sem exceção, nos pediram para abrir um tempo para dar oportunidade ao diálogo com o Estado espanhol".


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