Folha de S. Paulo


Desde morte do pai, sobrinho de Kim Jong-un vive escondido

Ele é meio arrumadinho, meio hipster. Usa o cabelo espetado e óculos modernos de aros grossos. Fala inglês com sotaque britânico, estudou no exterior e, acredita-se, frequentou até a prestigiada Sciences Po, em Paris.

Seu nome é Kim Han-sol. Tem 22 anos. É sobrinho do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un. O tio quer vê-lo morto, o quanto antes. Por isso, ninguém sabe onde Kim Han-sol está.

Reprodução/EyePress News
Em vídeo de março de 2017, Kim Han-sol diz que está bem após a morte do pai, Kim Jong-nam
Em vídeo de março de 2017, Kim Han-sol diz que está bem após a morte do pai, Kim Jong-nam

O jovem —junto com a mãe e a irmã— vive foragido desde o assassinato do pai, Kim Jong-nam, por envenenamento, no aeroporto de Kuala Lumpur, Malásia, em 13 de fevereiro passado. Kim Jong-nam era meio-irmão de Kim Jong-un. Tudo indica que foi o ditador que ordenou o crime. O próximo da fila de extermínio seria Kim Han-sol.

Até 2012, o membro da dinastia Kim era praticamente desconhecido fora do pequeno círculo de especialistas em Coreia do Norte. Até que foi descoberto por uma TV da Finlândia, que o entrevistou na escola internacional onde ele estudava, na Bósnia.

Na entrevista, disponível em parte no YouTube, Kim Han-sol chama o tio de "ditador". E, ousadia máxima, diz que espera um dia voltar para a Coreia do Norte e "tornar as coisas melhores para o povo".

Kim Han-sol

Do ponto de vista da ditadura norte-coreana, isso equivale a uma sentença de morte. E conecta Kim Han-sol a uma linha de assassinatos intrafamiliares ordenados pelo regime.

Primeiro, em dezembro de 2013, o fuzilamento de Jang Song-thaek, tio de Kim Jong-un e, até cair em desgraça, homem forte do regime do inexperiente ditador. Segundo, o envenenamento na Malásia de Kim Jong-nam.

De acordo com uma análise do "Nikkey Asian Review", do Japão, o tio Jang Song-thaek foi morto porque, em 2012, tinha proposto à China dar um golpe no ditador, trocando-o pelo meio-irmão.

Na época, Jong-nam morava em Macau, sob proteção extraoficial da China. Por ter sangue Kim, seu nome seria palatável à elite e ao povo da Coreia do Norte. E, bon-vivant apolítico, não representaria risco ao governo chinês.

Ainda segundo o "Nikkey Asian Review", a oferta de golpe foi feita ao então presidente chinês, Hu Jintao. Este ficou de dar retorno, mas não se mexeu. Só que a conversa estava sendo gravada secretamente e caiu nas mãos de um burocrata do Partido Comunista Chinês que repassou a informação a Pyongyang.

Como resultado, Jang Song-thak e Kim Jong-nam estão mortos. E Kim Han-sol se esconde em algum lugar do planeta, supostamente protegido por uma organização de ajuda a dissidentes. Seu último contato com o mundo externo foi por um vídeo no YouTube, logo depois da morte do pai. Ele diz que está bem e que espera que "as coisas melhorem em breve".

Kim Han-sol 2


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