Folha de S. Paulo


'Não existem mãos limpas' para armas nucleares, diz brasileiro da Ican

Arquivo pessoal
Cristian Wittmann na sede das Nações Unidas em Nova York
Cristian Wittmann na sede das Nações Unidas em Nova York

Cristian Wittmann, 34, único brasileiro a participar do comitê gestor da Ican (Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares), afirma que o prêmio Nobel da Paz para a organização e o tratado internacional que proíbe armamentos nucleares tiveram sucesso em mobilizar a opinião pública e mudar o paradigma de que há nações que podem esse tipo de arsenal e outras que não.

"Desde a Guerra Fria fomos educados a aceitar que há alguns países bons o suficiente para ter armas nucleares e outros não", diz ele, que é professor da Universidade Federal do Pampa, no Rio Grande do Sul, e atua desde 2004 na área de desarmamento humanitário. "Mas não existem 'mãos limpas' para ter essas armas."

Wittmann diz que a mudança desse paradigma para que fosse reconhecido o impacto humanitário das bombas nucleares foi a maior dificuldade da campanha.

"As armas nucleares foram as últimas armas de destruição em massa a se tornarem ilegais", afirma ele, para quem a mobilização da sociedade civil e a aprovação do tratado internacional tiveram sucesso em reativar o debate em torno das armas nucleares. "Os países [que têm essas armas] não podem mais nos ignorar", diz ele, que alerta que o processo de eliminação das armas nucleares será longo.

O especialista diz que o regime de não-proliferação, que vigorou até a assinatura do recente tratado internacional, acabava por fomentar que mais países desejassem ter armamentos nucleares. "O fato de alguns países não abrirem mão das bombas nucleares acabou levando mais nações a terem esse tipo de arma", afirma Wittmann.

LIGAÇÃO

O brasileiro conta que foi acordado pela ligação de um colega contando sobre o Nobel da Paz. Como seus colegas estão espalhados em vários países do mundo, ele diz que a celebração foi em grupos de mensagens e pelas redes sociais. "É um dia inesquecível", diz ele.

Wittmann representa a Rede Latinoamericana de Segurança Humana no comitê gestor da Ican, composto por representantes de dez entidades. Ele faz parte do comitê gestor da Ican desde 2014.


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