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Nacionalistas alemães podem minar Parlamento, afirma aliado de Merkel

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O deputado alemão Roderich Kiesewetter, aliado de Angela Merkel, foi reeleito na eleição de setembro
O deputado alemão Roderich Kiesewetter, aliado de Angela Merkel, foi reeleito na eleição de setembro

Um dos principais nomes do Parlamento alemão na área de segurança internacional, Roderich Kiesewetter, 54, espera tempos conturbados no Bundestag com a entrada do partido de direita ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha).

"É possível que eles tentem prejudicar o funcionamento do Parlamento a partir de comissões de inquérito", afirma o parlamentar, reeleito para um terceiro mandato pela CDU (União Cristã-Democrata), partido da chanceler Angela Merkel.

O deputado, que veio ao Brasil para a 14ª Conferência de Segurança Internacional Forte de Copacabana, no Rio, falou à Folha sobre os desafios do quarto governo Merkel.

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Como o sr. avalia o resultado da eleição do dia 24?

Roderich Kiesewetter - A Alemanha, com esse resultado eleitoral, chegou num estágio que já foi alcançado em outros países europeus, que é a volta de elementos nacionalistas através da representação partidária.

O que foi positivo no resultado é que, primeiro, a chanceler Angela Merkel foi confirmada no governo. Segundo, que é possível governar com partidos democráticos, e que é possível termos uma continuidade na política externa europeia alemã.

O que o sr. espera da atuação da AfD no Parlamento?

A AfD é a oposição de extrema direita, e temos também outra no flanco esquerdo [A Esquerda]. Esses grupos se diferem apenas a partir do que pensam da política de refugiados, a extrema esquerda quer abrir as fronteiras, e a AfD quer fechá-las.

Mas há muito mais pontos em comum entre esses dois grupos: são pró-Rússia, são contra a União Europeia, contra o euro, contra a Otan [aliança militar ocidental], contra os Estados Unidos. Talvez os flancos de extrema esquerda e extrema direita se unam como vimos na República de Weimar (1919-1933).

Talvez a extrema direita traga para o Parlamento tabus como o papel dos militares alemães na Segunda Guerra (1939-1945). E tente enfraquecer as relações que a Alemanha tem com suas contrapartes na UE. É possível também que tentem prejudicar o funcionamento do Parlamento a partir de comissões de inquérito.

Os partidos sondados para uma coalizão também divergem sobre a crise migratória. Qual a melhor resposta?

A resposta seria uma separação mais clara entre direito de asilo e de imigração. Do ponto de vista do direito ao asilo sempre fomos muito tolerantes. Até dois anos atrás qualquer um que chegasse afirmando perseguição política, étnica ou religiosa poderia ficar sete anos ou mais na Alemanha, e com isso nós fomos um pouco frouxos.

O partido de extrema direita cresceu em cima dessa situação. Não vemos um limite superior na entrada de refugiados, mas vemos um no número de pessoas que migram para a Alemanha.

Acabou a política de portas abertas?

Nunca tivemos uma. A chanceler recebeu 250 mil refugiados numa situação de emergência. Depois disso 800 mil refugiados. Os Estados governados pelos Verdes e por partidos de esquerda que não fizeram seu dever de casa.

O jornalista viajou a convite da Fundação Konrad Adenauer.


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