Folha de S. Paulo


Com voz falha, May pede união de conservadores para negociar 'brexit'

Paul Ellis/AFP
Protester comedian Simon Brodkin (R) gives a piece of paper written as a mock P45 (employee leaving form) to Britain's Prime Minister Theresa May (L) as she was delivering her speech on the final day of the Conservative Party annual conference at the Manchester Central Convention Centre in Manchester, northwest England, on October 4, 2017. The protester interrupted the leader's speech to hand her a paper and then was escorted out of the auditorium. / AFP PHOTO / PAUL ELLIS
Manifestante entrega um falso formulário de demissão durante discurso de encerramento

Uma semana após ser fortemente criticada pela aparente falta de liderança do Reino Unido nas negociações do "brexit", durante a convenção da oposição trabalhista, a primeira-ministra britânica, Theresa May, defendeu nesta quarta (4) seu governo e a união do seu partido ao encerrar o congresso dos conservadores, em Manchester, no norte da Inglaterra.

Em um discurso direcionado a seus correligionários, May pediu o fim das brigas internas do partido. Ela declarou ainda que o governo tem um "dever" com o país e deve se preocupar com o emprego dos trabalhadores comuns, não com o dos políticos.

O discurso chamou atenção pelas frequentes tosses e falhas na voz da primeira-ministra, que atrapalharam sua fala. Além disso, um manifestante interrompeu seu discurso para entregar a ela uma carta de demissão falsa, em protesto contra o governo.

A primeira-ministra disse entender que alguns britânicos estejam achando as negociações do "brexit" frustrantes, mas afirmou que o governo está se planejando para todas as eventualidades nas negociações e que está confiante em conseguir chegar a um acordo bom para o Reino Unido e para a União Europeia.

LIDERANÇA

Desde o domingo (1º) quando começou o encontro dos Tory, como o Partido Conservador é conhecido, May e seus ministros tentaram reafirmar sua liderança, tentando apagar o fracasso da legenda nas últimas eleições legislativas, quando perderam a maioria do Parlamento e tiveram sua autoridade reduzida.

"Vamos cumprir nosso dever com o país. Vamos avançar e dar ao país o governo de que ele precisa", disse.

A declaração pode ser interpretada também como uma resposta às críticas feitas pelo líder trabalhista, Jeremy Corbyn, uma semana antes.

Ao encerrar a conferência do seu partido, em Brighton, Corbyn criticou o que chamou de desorganização do governo e disse que o Labour está no limiar de voltar ao poder no Reino Unido. "Se organize ou saia do caminho", disse, se referindo a May.

Peter Nicholls - 27.set.2017/Reuters
O líder trabalhista Jeremy Corbyn durante discurso em Brighton nesta quarta (27)
O líder trabalhista Jeremy Corbyn, um dos principais opositoes da primeira-ministra Theresa May

DISPUTAS INTERNAS

O discurso de May por união foi feito em meio a fortes disputas internas no governo. Vários de seus ministros se pronunciaram recentemente —de forma pública e privada— contra a atuação do secretário de Relações Exteriores, Boris Johnson.

Na terça-feira (3), o Parlamento Europeu atacou a atuação do governo de May durante as negociações de sua desfiliação da União Europeia. O líder do maior partido do Legislativo da UE, Manfred Weber, disse que as disputas internas do gabinete estão colocando um acordo em risco e pediu que May demitisse seu ministro das Relações Exteriores.

Johnson discursou na conferência Tory um dia antes de May. Ele elogiou a primeira-ministra May por assumir a responsabilidade de fazer do 'brexit' um sucesso, e disse que os membros do governo apoiam cada sílaba de seus planos de saída da União Europeia.

Segundo Johnson, apesar do resultado frustrante para os conservadores na eleição, May saiu vencedora.

"Todo o país tem uma dívida com ela por sua firmeza em levar o Reino Unido adiante, como ela vai fazer, para um ótimo acordo do Brexit, com base naquele discurso de Florença, do qual cada sílaba, eu posso te dizer, todo o governo apoia", disse Johnson.

Oli Scarff/AFP
Britain's Foreign Secretary Boris Johnson walks outside the venue on the final day of the Conservative Party annual conference at the Manchester Central Convention Centre in Manchester, northwest England, on October 4, 2017. / AFP PHOTO / Oli SCARFF
O secretário de Relações Exteriores, Boris Johnson, tem sido alvo de críticas de colegas de partido

DONZELA DE GELO

Apesar de ter tratado de diversos temas políticos sobre a atuação do governo, May também usou o seu discurso em Manchester para tentar dar um rosto "mais humano" a sua atuação no governo. A primeira-ministra também tentou se aproximar de eleitores mais jovens.

May disse não se importar de ser chamada de "Donzela de Gelo", e se disse muito triste de não ter filhos. Sua intenção é usar sua história de vida para quebrar a imagem de robô que muitos têm dela —desfazendo o apelido de "maybot" (mistura do seu nome com a palavra "robot") que ganhou por isso, segundo o jornal "The Guardian".


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