Folha de S. Paulo


Esperança social-democrata fez carreira em Bruxelas

THOMAS KIENZLE/AFP
Martin Schulz, líder do Partido Social Democrata e candidato a chanceler da Alemanha, discursa em comício em Boeblingen
Martin Schulz, líder do Partido Social Democrata e candidato a chanceler da Alemanha, discursa em comício em Boeblingen

Martin Schulz não se deixou abater quando as pesquisas eleitorais consolidaram a posição de seu Partido Social-Democrata (SPD) na faixa dos 20%. "Estou concorrendo à Chancelaria. Se quiser uma posição no meu gabinete, Angela Merkel pode ser minha vice-chanceler", afirmou, em entrevista coletiva em Berlim, há duas semanas.

"Você pode publicar quantas pesquisas quiser", continuou. "Não me importa. Estou lutando por meus ideais."

Teimosia, otimismo ou negação, o fato é que Schulz, 61, chegou a ser visto como o único capaz de desbancar Merkel de seus 12 anos no poder.

Em um fato inédito nos 154 anos de história do SPD, Schulz foi escolhido candidato por unanimidade pelos partidários. E isso apesar de ter passado as últimas duas décadas em carreira política na União Europeia, inclusive como presidente do Parlamento Europeu.

Ele fala com orgulho sobre o período em Bruxelas. "A UE é um projeto único que substituiu a guerra pela paz, o ódio pela solidariedade."

Lá, colecionou desafetos, como o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi, que disse que Schulz deveria ser escalado para "guarda de campo de concentração" no cinema. O alemão havia questionado o possível conflito de interesses devido ao monopólio de mídia nas mãos do italiano.

Os britânicos tampouco eram lá seus fãs, afinal ele defendeu que o "brexit" (a saída britânica da UE) fosse o mais duro possível caso o Parlamento Europeu fosse excluído das discussões.

Nascido em Hehlrath, um vilarejo na então Alemanha Ocidental, próximo às fronteiras com a Holanda e a Bélgica, Schulz largou a escola e quase se perdeu para o alcoolismo e a depressão. A história é que seu irmão, médico, o ajudou a livrar-se da autodestruição. Desde os anos 1980 é abstêmio.

Seus pais, funcionários públicos, dividiam suas preferências políticas entre o SPD e a CDU (União Cristã-Democrata). Antes de entrar na política, ele teve uma livraria -é conhecido por ser um leitor voraz. Autodidata, é fluente em seis línguas.

Sua carreira política começou em 1987, quando se tornou prefeito de Würselen, posto que exerceu por 11 anos. Foi eleito ao Parlamento Europeu em 1994.

Schulz é casado há 30 anos e tem dois filhos adultos.

A política não foi a primeira escolha em sua vida: ele queria ser jogador de futebol, desejo impedido por uma lesão no joelho.

O destino do social-democrata é uma incógnita após este domingo. O SPD já deixou claro que não pretende formar uma nova coalizão com a CDU de Merkel, que deve ser o partido mais votado.

Caso essa decisão se mantenha, os sociais-democratas passariam então à oposição. Porém, se seu resultado ficar aquém do esperado, os correligionários podem pedir a substituição de Schulz, que ficaria sem Bruxelas e sem Berlim.


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