Folha de S. Paulo


Na ONU, Santos confronta Trump e pede 'novo enfoque' à guerra às drogas

Spencer Platt/Getty Images/AFP
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, durante seu discurso na ONU
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, durante seu discurso na ONU

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, disse, em seu pronunciamento nesta terça-feira (19), na ONU, em Nova York, que a "guerra contra as drogas não foi ganha e não está sendo ganha" e que "são necessários novos enfoques e novas estratégias. É preciso entender o consumo de drogas como um assunto de saúde pública e não de política criminal."

O discurso do colombiano continua divergindo do de seu par norte-americano, Donald Trump, que pediu a Santos que seja mais duro no combate ao narcotráfico.

O governo dos EUA vem se mostrando preocupado, desde maio, quando Santos visitou Trump em Washington, com o aumento da área cultivada dedicada à coca no país —que foi de 69 mil hectares em 2014 a 188 mil, em 2016— e com o fato de 92% da cocaína apreendida pelas autoridades norte-americanas ser de origem colombiana, segundo dados da DEA ( a agência antidrogas americana).

O aumento do território dedicado ao cultivo pronunciou-se depois que Santos ordenou que se deixasse de fumigar as plantações com produtos químicos prejudiciais à saúde, a pedido da então guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e de camponeses das regiões em questão, enquanto o acordo de paz estava sendo negociado.

Trump vem pedindo a Santos que retome o recurso e que seja mais agressivo no combate aos cartéis do narcotráfico.

Santos, porém, em seu discurso desta terça, deixou claro que a Colômbia vem seguindo um caminho diferente. "A guerra contra o narcotráfico cobrou muitas vidas, e na Colômbia estamos pagando um preço muito alto, talvez o mais alto entre todas as nações, e o que estamos vendo é que o remédio está sendo pior que a doença".

O colombiano pediu, então, que os países "façam um sério e rigoroso seguimento das experiências regulatórias que estão em marcha em distintas latitudes, para que possamos aprender de seus êxitos e conhecer suas dificuldades".

Também chamou a atenção para a necessidade de chegar a um consenso internacional sobre "não criminalizar os viciados".

E concluiu, devolvendo a bola para os EUA: "É hora de aceitar com realismo que, enquanto houver consumo, haverá oferta, e que o consumo não vai acabar. Se equivocam os que acham que o problema das drogas é apenas dos países produtores."

PAZ

Santos fez um balanço positivo da lenta implementação do acordo de paz com as Farc, aprovado no fim do ano passado. Disse que, nesta que foi sua última intervenção neste fórum —seu mandato termina no ano que vem— estava "feliz, muito feliz, porque as notícias que trago da Colômbia não têm a ver com a morte, e sim com a vida".

Afirmou que a primeira etapa do processo de paz foi concluída com êxito. "O fim das hostilidades foi respeitado e as mais de 9 mil armas em poder da guerrilha foram entregues."

Agora, explicou, inicia-se a segunda parte, quando uma missão da ONU "acompanhará a reintegração de guerrilheiros à vida civil, e nos ajudará a cuidar da segurança dos ex-combatentes e das comunidades que sofreram com o conflito armado".

Santos também se referiu à "nação irmã da Venezuela, com quem compartilhamos fronteira, cultura e um passado em comum", pedindo um esforço internacional para que se alcance o fim da crise. "A Venezuela nos dói. Nos dói a destruição paulatina de sua democracia. Nos dói a perseguição política e a violação sistemática dos direitos dos venezuelanos."


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