Folha de S. Paulo


Favorita à reeleição, Merkel vê França disposta a estreitar relação

Fabrizio Bensch/Reuters
German Chancellor Angela Merkel attends a news conference with children at the Christian Democratic Union party (CDU) party election campaign meeting centre in Berlin, Germany, September 17, 2017. REUTERS/Fabrizio Bensch TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: FAB034
Merkel participa de sessão de perguntas com crianças em Berlim, neste domingo

A chanceler alemã, Angela Merkel, deve ser reeleita neste domingo (24). Ponto para o presidente francês, Emmanuel Macron, que conta com isso para cumprir com uma de suas promessas de campanha: fortalecer o eixo entre Paris e Berlim.

Macron espera ativar a parceria que já tem até um apelido —Merkron, unindo os nomes de ambos— para renovar a União Europeia, desafiada pela saída britânica, conhecida como "brexit".

Não à toa Macron nomeou ministros falantes de alemão para seu gabinete, incluindo o premiê Édouard Philippe, que esteve em reunião em Berlim na sexta-feira (15).

Tampouco foi por acaso que Macron viajou, um dia após a posse, para a capital alemã, onde ao lado de Merkel pediu uma "reconstrução histórica para a Europa".

"Os dois países estão se preparando para possíveis mudanças", diz à Folha a analista alemã Jacqueline Hénard, especialista nas relações entre Berlim e Paris.

"O governo francês já foi montado para entender melhor o que os alemães estão dizendo. O importante, agora, é vermos como o gabinete alemão será formado."

Berlim já vinha insistindo na necessidade de novas dinâmicas na UE, mas os governos franceses —por exemplo, o do socialista François Hollande— eram avessos ao debate. A França recusou em 2005, em referendo, instituir uma Constituição europeia.

O elemento novo é o próprio Macron, que quer convocar uma consulta aos cidadãos do bloco para entender seus descontentamentos. As reformas são incentivadas pela sensação de que são agora urgentes: cresce a insatisfação popular com a UE.

A tese é de que os insatisfeitos migram para os partidos populistas, como a Frente Nacional, que teve 34% dos votos nas eleições presidenciais francesas.

Tamanho parece ser o interesse de Macron que, para dar crédito às negociações com Berlim, seu governo abriu mão de parte de suas próprias reformas fiscais, adiando cortes nos impostos.

O presidente centrista optou por garantir pela primeira vez em anos que o deficit orçamentário estará abaixo do limite europeu de 3% do PIB (produto interno bruto), como insiste a Alemanha.

Com o gesto, quis mostrar a Merkel que ele é um aliado responsável no setor fiscal.

MUROS

O diálogo entre Paris e Berlim entrará em uma nova fase com a reeleição de Merkel, hoje apontada por todas as pesquisas de opinião.

Seu partido, a CDU (União Democrata-Cristã), lidera com 36% segundo a sondagem feita pelo Forschungsgruppe Wahlen. O segundo lugar, o SPD (Partido Social-Democrata), tem 23%.

A pesquisa foi feita de 12 a 14 de setembro com 1.383 pessoas. Não há informações sobre sua margem de erro.

O próximo governo alemão deve ser formado por uma coalizão, e não está claro quem seriam os parceiros de Merkel. Muito dependerá de quem chegar em terceiro lugar, um posto em disputa.

De todo modo, as negociações dentro da União Europeia costumam caber à própria Chancelaria e permaneceriam nas mãos de Merkel.

Mas as discussões para a renovação do bloco europeu devem ter obstáculos.

A Alemanha dificilmente concordará, por exemplo, que a UE tenha um ministro das Finanças, algo que Macron sugeriu em sua campanha eleitoral.

Essa dinâmica também vai depender, segundo Hénard, de quem assumir a chefia do Banco Central Europeu no lugar do italiano Mario Draghi, cujo mandato expira em 2019. O presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, é cotado para a vaga.

"Macron e Merkel querem reformar a UE, mas há desacordo em muitos assuntos, em especial os financeiros", diz Gerard Grunberg, do Centro de Estudos Europeus da Sciences Po.

Eleições gerais - Partido de Merkel é favorito para manter controle do Parlamento*


Endereço da página:

Links no texto: