Folha de S. Paulo


Poder de Trump para lançar um ataque nuclear atrai preocupação

O poder do presidente americano, Donald Trump, de lançar um ataque nuclear contra a Coreia do Norte de forma não provocada começou a ser discutido seriamente nos Estados Unidos.

No fim de agosto, o ex-secretário nacional de Inteligência James Clapper afirmou que a possibilidade é "assustadora e preocupante" pela instabilidade atribuída ao republicano. Ele foi criticado por Trump, mas é uma autoridade respeitada.

Os especialistas Jeffrey Brader e Jonathan Pollack propuseram, em artigo, limites aos poderes do presidente.

O acesso aos códigos nucleares foi assunto da adversária Hillary Clinton e de parlamentares, ainda que a lógica diga que Trump apenas emula ameaças retóricas de Richard Nixon de usar a bomba no Vietnã nos anos 70 ao falar em "fogo e fúria" contra a ditadura de Kim Jong-un.

Britta Pedersen/AFP
Activists of the non-governmental organization
Ativistas contra o uso de armas nucleares protestam com máscaras de Trump e Kim Jon-un

De fato, Trump pode ordenar sozinho uma guerra nuclear. Só seria impedido por um motim generalizado, algo altamente improvável.

Só o Congresso pode declarar guerra, mas um ataque nuclear foi pensado como resposta a uma ação semelhante pela União Soviética ou China, na Guerra Fria.

Logo, precisaria ser decidido em minutos, já que mísseis lançados de silos chegariam a Washington em 30 minutos, prazo que cai para 12 minutos se a origem for um submarino no Atlântico.

Tais prazos podem ser fatais. Em 1979, por exemplo, um operador inseriu sem querer a simulação de um ataque soviético no sistema de defesa e por minutos a retaliação não foi ordenada.

A "bola de futebol" (americano, claro) fica com um auxiliar a 15 segundos do presidente e não pode disparar mísseis com o proverbial "botão nuclear". É uma mala com códigos, planos de ataque, procedimentos de segurança e um equipamento secreto de comunicação caso não haja linhas seguras.

Trump será conectado à sala de guerra do Pentágono e a quaisquer outras autoridades que deseje. Hollywood disseminou a ideia, descartada por especialistas, de que a ordem teria de ser validada pelo secretário de Defesa.
Trump teria, sim, de ter sua identidade checada pelo chefe-adjunto do Comando Militar Nacional. Tiraria do bolso a "bolacha", cartão com códigos a serem confrontados com uma contrassenha.

Confirmada a ordem, ela é inserida no sistema, que gera uma mensagem criptografada de 150 caracteres -10 a mais do que os tuítes tão caros a Trump. Ela é então enviada para os centros militares, que têm 1.800 ogivas nucleares de prontidão.

Assista ao vídeo

No solo, um esquadrão de mísseis tem cinco equipes controlando dez silos cada. Cada time tem duas pessoas, que precisam conferir os códigos com aqueles que retiraram de cofres, que também guardam chaves de disparo.

Todas devem ser giradas ao mesmo tempo no regimento, por pelo menos dois times. O tempo desde a decisão inicial é de cinco minutos.

Já o lançamento de submarinos demora dez minutos a mais, porque requer preparação extra. Ali, o capitão precisa concordar com seu imediato e dois oficiais.

O lançamento não pode ser abortado. O sistema todo é pensado para reagir rapidamente a um grande ataque ou para garantir retaliação proporcional se fosse, por exemplo, direcionado contra um único míssil norte-coreano.
Isso não quer dizer que Trump não possa lançar um ataque preventivo, o que certamente ensejaria um debate mais complexo no primeiro momento de discussão.

O tuíte do armagedon


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