Folha de S. Paulo


Seul planeja 'unidade de decapitação' para assustar ditador norte-coreano

O governo sul-coreano planeja o retorno de uma unidade especial que, nos anos 1960, teve como missão assassinar o ditador norte-coreano à época, Kim Il-sung.

O grupo foi descrito como "unidade de decapitação" pelo ministro da Defesa, Song Young-moo, que disse a parlamentares em Seul que a força seria estabelecida no fim deste ano e faria incursões noturnas na Coreia do Norte com helicópteros. O anúncio foi feito um dia após o último teste nuclear de Pyongyang, no dia 3.

A unidade, oficialmente conhecida como Spartan 3.000, não tem a missão de decapitar Kim Jong-un, mas sim a de enviar uma mensagem ameaçadora.

Seul pretende deixar a liderança em Pyongang nervosa com as consequências de continuar desenvolvendo seu arsenal nuclear. Ao mesmo tempo, a atitude agressiva do sul busca fazer o regime norte-coreano a aceitar o diálogo oferecido pelo presidente Moon Jae-in.

No final dos anos 1960, depois que militares norte-coreanos tentaram invadir o palácio presidencial em Seul, a Coreia do Sul treinou secretamente homens tirados da prisão ou das ruas para se esgueirar para a Coreia do Norte e cortar a garganta de Kim Il-sung.

Quando a missão foi abortada, os homens fizeram um motim, mataram seus treinadores e fugiram para Seul, onde se explodiram. O governo escondeu o episódio por décadas.

"A melhor dissuasão que podemos ter, ao lado de termos nossas próprias armas nucleares, é fazer Kim Jong-un temer pela própria vida", afirmou Shin Won-sik, um general três estrelas que era o principal estrategista do Exército sul-coreano antes de se aposentar, em 2015.

As medidas também levantaram questões sobre se a Coreia do Sul e seu principal aliado, os Estados Unidos, estão preparando terreno para matar ou incapacitar Kim Jong-un e seus principais homens antes mesmo de eles poderem atacar.

Enquanto o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, diz que os EUA não buscam uma mudança de liderança na Coreia do Norte, os sul-coreanos dizem que as novas medidas são apenas para compensar a ameaça norte-coreana.

Na semana passada, o presidente Donald Trump aceitou levantar restrições a mísseis balísticos sul-coreanos, estabelecidas nos anos 1970 para prevenir uma corrida armamentista na península Coreana.

"Agora podemos construir mísseis balísticos que podem atingir bunkers subterrâneos onde Kim Jong-un se esconderia", disse o general Shin. "A ideia é como podemos instilar o tipo de medo que uma arma nuclear daria —mas fazê-lo sem uma arma nuclear. No sistema medieval como o norte-coreano, a vida de Kim Jong-un é tão valiosa quanto a de milhares de vidas de pessoas comuns que seriam ameaçadas em um ataque nuclear."


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