Folha de S. Paulo


A dolorosa espera de esposa e filho em buscas por marido soterrado na cidade mais afetada por terremoto no México

Reprodução/Juan Paullier/BBC Mundo
Segundo o Serviço Simológico do México, o terremoto teve seu epicentro a 137 quilômetros a sudoeste da cidade de Tonalá.
Segundo o Serviço Simológico do México, o terremoto teve seu epicentro a 137 quilômetros a sudoeste da cidade de Tonalá

Irma López vê as retroescavadeiras removendo escombros e chora. Ao lado de seu filho mais velho, sentada embaixo de uma árvore, pede, com um fio de voz, que seu marido esteja vivo.

Juan Jiménez está soterrado embaixo de tijolos e ferros retorcidos de paredes que desabaram do palácio municipal de Juchitán, estado de Oaxaca.

Juchitán, uma pequena e pobre cidade de 76 mil pessoas, é a mais afetada pelos tremores que chegaram a 8,2 de magnitude. Dos 61 mortos contabilizados até agora, 36 são da cidade - nela, uma em cada três casas foi declarada inabitável.

Cerca de 24 horas após a tragédia, o centro histórico da cidade era um mar de ruas destruídas, repletas de cacos de vidro, paredes quebradas, pilhas de escombros e poucas construções ainda de pé.

Na escuridão silenciosa da noite, em uma busca desesperada por sobreviventes, Irma López não conseguia conter as lágrimas. "Confio que ele vá aparecer, e com vida".

Reprodução/Juan Paullier/BBC Mundo
Uma das cidades mais afetadas foi Juchitán, en Oaxaca, onde morreram 36 pessoas.
Uma das cidades mais afetadas foi Juchitán, en Oaxaca, onde morreram 36 pessoas
Reprodução/AFP/BBC Mundo
Depois do terremoto, uma em cada três casas foi declarada inabitável em Juchitán, em Oaxaca
Depois do terremoto, uma em cada três casas foi declarada inabitável em Juchitán, em Oaxaca

Seu marido, policial da prefeitura, trabalhava quando o tremor começou perto da meia noite do horário local. A área está agora tomada por equipes de resgate, outros policiais, soldados e cães. E, a poucos metros dali, Irma e seu filho.

As máquinas trabalham, removem escombros de um lugar a outro e logo param. Silêncio. A equipe de resgate pede que ninguém fale nada e começam os gritos de homens com macacões de cor laranja. "Juan, Juan, Juan!" Silêncio novamente e uma espera interminável para que, dos escombros, surja uma resposta. Horas antes, pelo menos o telefone celular de Juan tocava. Não conseguiram, no entanto, identificar de onde exatamente vinha o ruído. E agora o aparelho não toca mais.

Reprodução/Pedro Pardo/BBC Mundo
Em Juchitán, en Oaxaca, 36 pessoas morrram após terremoto; no total, foram 61 mortos no México.
Em Juchitán, en Oaxaca, 36 pessoas morrram após terremoto; no total, foram 61 mortos no México
Reprodução/Pedro Pardo/BBC Mundo
Parentes em velório de Casimiro Rey, de 85 anos, um dos moradores de Juchitán que morreram no terremoto.
Parentes em velório de Casimiro Rey, de 85 anos, um dos moradores de Juchitán que morreram no terremoto

Irma que, como Juan, tem 36 anos, é apenas um caso da dor em uma cidade que, como nenhuma outra no México, sofre com os efeitos do maior terremoto a atingir o país em um século. A cidade tem também apagões e acesso limitado à água.

A área foi visitada pelo presidente Enrique Peña Nieto. A prioridade, disse, era levar água e alimentos para a população. Parte de Juchitán se assemelha a uma cidade fantasma, com lojas fechadas e produtos espalhados pelo chão. No comércio que sobreviveu, filas para se comprar o básico. Mesmo nos hotéis, a iluminação é feita por lanternas de celulares.

O clima é de caos e de dor, mas de também de calma no silêncio.

Enquanto isso, Irma López aguarda, com olhar perdido, o caminho das retroescavadeiras retornando a montanha de escombros. Chora e pede mais uma vez a Deus que de lá retirem Juan.


Endereço da página: