Folha de S. Paulo


EUA buscam autorização da ONU para usar força militar contra Pyongyang

O governo Donald Trump busca autorização da ONU para usar força militar contra embarcações norte-coreanas de contrabando em alto mar.

É o que aponta o rascunho de uma resolução obtido pela "Foreign Policy", que circulou pelo Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira (6).

O pedido de aprovação foi incluído em uma ampla resolução dos EUA no conselho que suspenderia as exportações de petróleo para Pyongyang, além de congelar ativos do regime no exterior.

Em um encontro com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, o líder russo, Vladimir Putin, disse que se opõe a um embargo de petróleo contraa Coreia do Norte.

"Não devemos agir baseado em emoções e empurrar a Coreia do Norte para o fim da linha", afirmou Putin. "Devemos agir com calma e evitar passos que poderiam elevar as tensões."

Com 13 páginas, o texto da resolução que os EUA pretendem apresentar condena o último teste nuclear da Coreia do Norte, realizado no dia 3, e o "desprezo flagrante" em relação à numerosas resoluções anteriores da ONU que proibiam as atividades norte-coreanas envolvendo mísseis e armas nucleares.

A Coreia do Norte, diz o texto, "deve suspender imediatamente todas as atividades relacionadas ao seu programa de mísseis balísticos e abandonar todo o seu programa de armas nucleares, de uma forma completa, verificável e irreversível".

A resolução autorizaria Estados-membros, incluindo os EUA, a "usar todas as medidas necessárias" para "interditar e inspecionar" embarcações de carga que tenham sido designadas como violadoras de sanções pelo Conselho de Segurança da ONU.

CHINA

Diplomatas do Conselho de Segurança afirmaram que os representantes de Pequim e Moscou foram informados da proposta, mas não demonstraram apoio.

Apesar disso, a China tem dado sinais de que poderia apoiar novas sanções contra a Coreia do Norte.

O ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, afirmou nesta quinta (7) que "Pequim concorda que o Conselho de Segurança da ONU deve responder com novas medidas" depois do mais recente teste nuclear norte-coreano.

"Acreditamos que sanções e pressão são apenas metade da chave para resolver o problema. A outra metade é diálogo e negociação.

Principal aliado de Kim Jong-un, a China hesita há tempos em cortar completamente o fornecimento de petróleo para a Coreia do Norte, temendo que a instabilidade econômica possa levar milhões de refugiados às suas fronteiras.

Russos e chineses já afirmaram que apoiariam um acordo de "dupla suspensão", interrompendo não apenas o programa nuclear norte-coreano, como também os exercícios militares de EUA e Coreia do Sul na península Coreana. Washington e Seul rejeitam a proposta.

Cortar o fornecimento de petróleo à Coreia do Norte pode "significar problemas" para Pequim, aponta Jin Qiangyi, professor no Centro de Estudos da Coreia do Norte e do Sul na Universidade Yanbian, na China.

"O que nós faríamos se houver caos depois de cortar o petróleo?", questiona ele. "Além do mais, petróleo é a última carta que temos."

Zhang Liangui, especialista em estudos norte-coreanos na Escola Central do Partido Comunista, em Pequim, afirma que o teste nuclear do dia 3 pode ter levantado temores reais de contaminação na fronteira com a China, algo que poderia encorajar Pequim a finalmente usar essa carta.

TRUMP

O presidente americano, Donald Trump, vem pressionando para que Pequim "faça mais" em relação ao país vizinho. Logo após o último teste nuclear, ele chegou a dizer que a Coreia do Norte era "um embaraço" para o líder chinês, Xi Jinping.

Em um telefonema a Xi na noite de quarta, porém, Trump adotou um tom mais conciliatório. "Acredito que eu e o presidente Xi concordamos em 100%", disse o americano a repórteres. "Acho que ele [Xi] quer fazer alguma coisa", sem detalhar o quê.

O americano voltou a dizer nesta quinta-feira que a Coreia do Norte "está se comportando mal e isso precisa parar".

Ele afirmou que prefere não usar a opção militar contra Pyongyang, mas que isso poderia acontecer -e se ocorresse, "seria um dia muito triste para a Coreia do Norte".


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