Folha de S. Paulo


Papa apoia acordos de paz e pede que se abandone o 'desejo de vingança'

Em seu primeiro dia de atividades em Bogotá, nesta quinta (7), o papa Francisco pediu que os colombianos fossem persistentes em sua busca por paz com os grupos guerrilheiros, deixando de lado o "desejo de vingança".

O pontífice aludia à implementação do acordo já aprovado com as ex-Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que ainda sofre resistências, e às negociações em curso com o ELN (Exército de Liberação Nacional).

"É preciso fugir de toda a tentação de vingança e da busca de interesses particulares e de curto prazo", disse em seu discurso, ao lado do presidente Juan Manuel Santos, diante da Casa de Nariño, sede do governo local.
A frase soou como um recado para aqueles que criticam os acordos porque não concordam com as anistias e penas mais amenas oferecidas a ex-guerrilheiros que cometeram crimes graves.

"É muito [longo] o tempo que vocês passaram no ódio e na vingança. A solidão de estarem sempre confrontados já se conta por décadas, parecem cem anos. Nós não queremos que nenhum tipo de violência restrinja ou anule nem uma vida mais."

Assistia ao discurso um pequeno público composto de políticos, chefes militares, vítimas do conflito e crianças. Na contígua praça Bolívar, o pronunciamento foi visto por telão por cerca de 25 mil pessoas, segundo organizadores.

Como de costume, Francisco descumpriu o protocolo quando algumas crianças com síndrome de Down correram para abraçá-lo. O papa pediu que os seguranças deixassem que todas viessem e as abençoou calmamente.

Depois, as citou no discurso: "Nossa mensagem de paz inclui considerar que todos são importantes. E essas crianças que quebraram o protocolo hoje, transformando essa cerimônia em algo mais humano, mostram isso, que todas as vidas humanas são importantes".

Ao final, o papa Francisco voltou a falar da luta para acabar com a violência armada. Assim como fizeram em outras ocasiões Santos e o líder das Farc, Rodrigo "Timochenko" Londoño, o papa usou uma frase do discurso do escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) ao aceitar o prêmio Nobel de Literatura, em 1982.

No discurso, ele dizia sonhar com "uma nova e arrasadora utopia de vida, na qual ninguém possa decidir por outros até a forma de se morrer, em que o amor seja verdadeiro e seja possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham por fim e para sempre uma segunda oportunidade sobre a terra".

Depois, o papa apareceu em uma sacada para a praça Bolívar e falou com a multidão, composta sobretudo de jovens que vieram de várias partes do país. "Pelo barulho, sinto que nessa praça há muitos jovens, porque só jovens fazem essa bagunça. Continuem fazendo bagunça."

Acrescentou que os jovens também eram responsáveis pela paz: "Que as dificuldades não os oprimam, que a violência não os derrube, pois o mal não pode vencer".

Como de praxe, o papa usou analogias futebolísticas para aproximar-se do público: "Até uma final entre o Atlético Nacional e o América de Cali é uma ocasião para estarem juntos", disse, citando os times colombianos.

Em coro, o público respondia: "Francisco, hermano, ya eres colombiano" (Francisco, irmão, já é colombiano).

VENEZUELA

Cinco religiosos venezuelanos que estão em Bogotá e tinham marcado um encontro privado com o papa na noite desta quinta (7), depois da missa que encerraria o dia, no parque Simón Bolívar, para 1,3 milhão de pessoas. A cerimônia deverá ser a segunda maior no país, já que se prevê 2 milhões de pessoas para a missa em Medellín, no sábado (9).

O cardeal Jorge Urosa Savino afirmou que "o povo venezuelano vive uma situação grave por uma agitação política permanente, um problema econômico terrível e a escassez injustificada de alimentos e medicamentos".

Acrescentou que Nicolás Maduro tem agido "como um ditador" por ter anulado os poderes da Assembleia Nacional, substituindo-a pela Assembleia Constituinte, e não colocou em prática o que o papa Francisco lhe pedira, sobretudo para "conter a violência".


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