O Reino Unido e a União Europeia voltaram a se sentar à mesa em Bruxelas nesta segunda-feira (28) para sua terceira rodada de conversas sobre o "brexit", a saída britânica do bloco europeu.
O negociador-chefe europeu, Michel Barnier, pressionou o Reino Unido para que esclareça seus planos e faça concessões. "Estou preocupado. O tempo passa rápido. Precisamos começar a negociar seriamente", afirmou.
Barnier também disse que as instituições de defesa britânicas não receberão mais financiamento europeu -uma dura mensagem à primeira-ministra conservadora, Theresa May, em anos de crescente preocupação quanto às ameaças terroristas.
David Davis, negociador-chefe britânico, pediu que a União Europeia tenha "flexibilidade" e "imaginação".
Os impasses continuam todos ali -incluindo a conta do divórcio, estimada em R$ 280 bilhões. Mas desta vez as discussões vêm com uma surpresa: um novo posicionamento do Partido Trabalhista britânico, de oposição.
Essa sigla de centro-esquerda anunciou no domingo que passa a defender o "soft brexit", a versão mais suave da saída britânica.
Os trabalhistas apoiam, por exemplo, a permanência do Reino Unido no mercado comum europeu, que congrega 500 milhões de consumidores, por um período de transição de até quatro anos. Com o plano, a livre circulação de pessoas também seria temporariamente mantida.
Esse modelo é bastante diferente da visão de "brexit" implementada pelo Partido Conservador, hoje no governo. A primeira-ministra, Theresa May, prefere retirar o país do mercado comum.
O "brexit" foi aprovado por voto popular em junho de 2016 e formalmente iniciado em março de 2017. O processo dura dois anos.
A mudança drástica na posição trabalhista levou, na segunda-feira, a críticas de membros do próprio partido. A ideia de que o Reino Unido possa manter as regras de livre movimentação europeia e aceitar a jurisdição do Tribunal de Justiça da União Europeia incomoda legisladores trabalhistas.
Há temor de que a defesa do "soft brexit" leve à alienação da população -que aprovou o "brexit" em 2016.
Um parlamentar disse ao jornal "Guardian", por exemplo, que a política do partido causará dano ao apoio aos trabalhistas em regiões que votaram pelo "brexit".
O Ukip (Partido da Independência do Reino Unido, de direita ultranacionalista) acusou o Partido Trabalhista de trair esses eleitores.
FRONTEIRA
As negociações entre Reino Unido e União Europeia devem se alongar semana adentro, ao menos até a quinta, incluindo temas como os direitos dos expatriados. Há 3 milhões de cidadãos europeus na ilha, sem saber se poderão permanecer e trabalhar.
O Reino Unido tem se chocado contra um muro, ao insistir em negociar acordos comerciais futuros com o bloco europeu. Bruxelas se recusa, pois quer primeiro tratar de temas como a conta do divórcio, paga por Londres.
A fronteira entre Reino Unido e Irlanda - membro da União Europeia- é um outro tema espinhoso. Não está decidido que tipo de controle pode haver entre os dois territórios, o que traz temores de novas disputas separatistas nessa região.