Folha de S. Paulo


Partido Trabalhista passa a defender 'soft brexit'; negociações continuam

Emmanuel Dunand/AFP
British Secretary of State for Exiting the European Union (Brexit Minister) David Davis (L) and European Union Chief Negotiator in charge of Brexit negotiations with Britain Michel Barnier (R) address media representatives at the European Union Commission Headquarters in Brussels on August 28, 2017. EU Brexit negotiator Michel Barnier today warned Britain to start
David Davis, Ministro do Brexit, e Michel Barnier, Negociador-Chefe da União Europeia em Bruxelas

O Reino Unido e a União Europeia voltaram a se sentar à mesa em Bruxelas nesta segunda-feira (28) para sua terceira rodada de conversas sobre o "brexit", a saída britânica do bloco europeu.

O negociador-chefe europeu, Michel Barnier, pressionou o Reino Unido para que esclareça seus planos e faça concessões. "Estou preocupado. O tempo passa rápido. Precisamos começar a negociar seriamente", afirmou.

Barnier também disse que as instituições de defesa britânicas não receberão mais financiamento europeu -uma dura mensagem à primeira-ministra conservadora, Theresa May, em anos de crescente preocupação quanto às ameaças terroristas.

David Davis, negociador-chefe britânico, pediu que a União Europeia tenha "flexibilidade" e "imaginação".

Os impasses continuam todos ali -incluindo a conta do divórcio, estimada em R$ 280 bilhões. Mas desta vez as discussões vêm com uma surpresa: um novo posicionamento do Partido Trabalhista britânico, de oposição.

Essa sigla de centro-esquerda anunciou no domingo que passa a defender o "soft brexit", a versão mais suave da saída britânica.

Os trabalhistas apoiam, por exemplo, a permanência do Reino Unido no mercado comum europeu, que congrega 500 milhões de consumidores, por um período de transição de até quatro anos. Com o plano, a livre circulação de pessoas também seria temporariamente mantida.

Esse modelo é bastante diferente da visão de "brexit" implementada pelo Partido Conservador, hoje no governo. A primeira-ministra, Theresa May, prefere retirar o país do mercado comum.

O "brexit" foi aprovado por voto popular em junho de 2016 e formalmente iniciado em março de 2017. O processo dura dois anos.

A mudança drástica na posição trabalhista levou, na segunda-feira, a críticas de membros do próprio partido. A ideia de que o Reino Unido possa manter as regras de livre movimentação europeia e aceitar a jurisdição do Tribunal de Justiça da União Europeia incomoda legisladores trabalhistas.

Há temor de que a defesa do "soft brexit" leve à alienação da população -que aprovou o "brexit" em 2016.

Um parlamentar disse ao jornal "Guardian", por exemplo, que a política do partido causará dano ao apoio aos trabalhistas em regiões que votaram pelo "brexit".

O Ukip (Partido da Independência do Reino Unido, de direita ultranacionalista) acusou o Partido Trabalhista de trair esses eleitores.

FRONTEIRA

As negociações entre Reino Unido e União Europeia devem se alongar semana adentro, ao menos até a quinta, incluindo temas como os direitos dos expatriados. Há 3 milhões de cidadãos europeus na ilha, sem saber se poderão permanecer e trabalhar.

O Reino Unido tem se chocado contra um muro, ao insistir em negociar acordos comerciais futuros com o bloco europeu. Bruxelas se recusa, pois quer primeiro tratar de temas como a conta do divórcio, paga por Londres.

A fronteira entre Reino Unido e Irlanda - membro da União Europeia- é um outro tema espinhoso. Não está decidido que tipo de controle pode haver entre os dois territórios, o que traz temores de novas disputas separatistas nessa região.


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