Folha de S. Paulo


Maduro pede à Interpol captura de procuradora-geral destituída

Luis Robayo/AFP
Venezuela's attorney general Luisa Ortega speaks to journalists outside the Supreme Court of Justice headquarters building in Caracas on June 13, 2017. Venezuela's Supreme Court on Monday rejected a legal challenge by attorney general Luisa Ortega against the government's constitutional reform bid in a deadly political crisis. / AFP PHOTO / LUIS ROBAYO ORG XMIT: LRO004
Ex-procuradora-geral Luisa Ortega Díaz fala a jornalistas em frente ao Tribunal Supremo de Justiça

O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que pedirá à Interpol a captura da ex-procuradora-geral Luisa Ortega Díaz e do marido dela, o deputado Germán Ferrer. Os dois deixaram o território venezuelano na semana passada, fugindo do que chamaram de perseguição.

"A Venezuela vai solicitar à Interpol um código vermelho para estas pessoas envolvidas em crimes graves", disse Maduro durante entrevista à imprensa internacional.

A declaração foi feita enquanto Ortega deixava a Colômbia, para onde fugiu. Ela embarcou para o Brasil, onde chegaria na madrugada desta quarta (23).

"Andas com a oligarquia colombiana, com os golpistas brasileiros. Diga-me com quem andas e te direi quem és", disse Maduro, acrescentando que nunca imaginou "uma traição tão grande".

O Ministério Público Federal (MPF) brasileiro informou que Ortega participará nesta quarta (23) da 22ª Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul, na sede da Procuradoria-geral da República, em Brasília.

Ortega foi destituída da Procuradoria-Geral no início do mês pela Assembleia Constituinte que rege a Venezuela com poder absoluto.

Uma dia antes de ela fugir, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) havia decretado a prisão de Ferrer, acusado de liderar uma rede de extorsão a empresários. Tanto a Constituinte quanto o Tribunal são controlados pelo regime.

Maduro denunciou que Ortega "estava trabalhando há tempos com os EUA para fazer mal" ao país. Segundo ele, esta colaboração ocorreu sob pressão americana.

"Os EUA conseguiram chantagear o ex-deputado Ferrer porque descobriram contas suas no mundo inteiro", afirmou Maduro.

DE CHAVISTA A OPOSIÇÃO

De orientação chavista, Ortega se rebelou contra Maduro no final de março, quando denunciou uma "ruptura constitucional" na Venezuela a partir de decisões judiciais contra o Parlamento de maioria opositora.

O divórcio definitivo ocorreu com a instalação da Constituinte convocada por Maduro em meio a protestos opositores que deixaram 125 mortos nos últimos quatro meses.

Ao fugir, ela burlou a proibição de deixar a Venezuela, imposta pelo máximo tribunal no âmbito de uma investigação feita sobre ela por supostamente mentir no exercício de suas funções.

Segundo Ortega, as acusações contra ela são parte de uma "perseguição política".

Transformada em opositora, Ortega acusa Maduro de envolvimento no escândalo de corrupção internacional da empreiteira Odebrecht.

"Temos detalhes de toda a cooperação, montantes e personagens que enriqueceram e esta investigação envolve o senhor Nicolás Maduro e seu entorno", disse.

Além da ex-procuradora, cinco magistrados nomeados pelo Parlamento de maioria opositora fugiram para a Colômbia. Maduro desconheceu a nomeação da Suprema Corte e ordenou a prisão dos 33 magistrados indicados em 21 de julho.

ELEIÇÕES

Maduro declarou que as eleições estaduais e municipais ocorrerão neste ano, em calendário a ser definido pelo Conselho Eleitoral e pela Assembleia Constituinte.

Quanto às eleições presidenciais, o ditador afirmou que mesmo "se [Donald] Trump invadir a Venezuela, teremos eleições para a Presidência em 2018". Ele prometeu reconhecer os resultados das urnas e se disse confiante da derrota da oposição.


Endereço da página:

Links no texto: