Folha de S. Paulo


Governo brasileiro descartou aplicar sanções contra a Venezuela

Ueslei Marcelino/Reuters
O ditador Nicolás Maduro durante sessão na Assembleia Nacional
O ditador Nicolás Maduro durante sessão na Assembleia Nacional

O governo brasileiro chegou a aventar a aplicação de sanções à Venezuela, focadas em derivados do petróleo. O Brasil importou mais de US$ 220 milhões em derivados de petróleo, mais de metade das importações brasileiras da Venezuela em 2016 (US$ 415 milhões).

Mas a hipótese foi afastada, pelo entendimento que as sanções afetariam a população venezuelana, já que reduzir a receita com derivados de petróleo resultaria em menos recursos para importação de alimentos.

De acordo com o FMI, o PIB da Venezuela encolherá 7,4% em 2017, completando quatro anos consecutivos de queda, e a inflação passará de 720%.

Os EUA vêm aplicando sanções contra integrantes do governo venezuelano; o próprio Maduro teve bens congelados. "Mas não vi resultado. Acho que o objetivo das sanções é mais fazer com que os EUA pareçam durões", diz Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano.

O presidente Donald Trump chegou a dizer que não descartaria uma ação militar na Venezuela, mas sua fala é vista como mais um dos arroubos retóricos do líder, além de ser contraproducente, pois pode fortalecer o antiamericanismo na região.

Agora, segundo Shifter, os EUA estão considerando seriamente cortar as importações de petróleo da Venezuela. Há forte oposição nos EUA à ideia, porque elevaria preços do petróleo e prejudicaria a população venezuelana. "Mas é a única coisa que realmente afetaria o regime; sanções individuais têm um efeito muito limitado."

FRONTEIRA

No Brasil, existe um plano para retirar os cerca de 30 mil brasileiros que vivem na Venezuela, em caso de colapso do regime. E, na segunda-feira (21), haverá uma reunião no Planalto, reunindo os ministros da Casa Civil, Justiça, Reações Exteriores, Trabalho, Desenvolvimento Social e a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, para discutir a situação dos venezuelanos no país e a possibilidade de uma grande onda de refugiados.

Para Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da FGV, também seria necessário aumentar os contatos entre as forças armadas brasileiras e as venezuelanas, já que o exército venezuelano fará parte de qualquer que seja o próximo governo do país.

"É urgente que o Brasil faça algo, temos um país se transformando em um narco-estado em uma fronteira que não controlamos", afirma Spektor. (PCM)


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