Folha de S. Paulo


Análise

Quando o terror me atinge, atinge milhões

Dou um depoimento pessoal que, no entanto, serve para mostrar o efeito que produzem no público em geral atentados terroristas como o desta quinta-feira (17) em Barcelona: sinto-me diretamente atingido por eles, o que é fácil de explicar.

Todos os atentados recentes em que a arma principal foi um veículo ocorreram em pontos que me são queridos, exatamente por serem emblemáticos das cidades atingidas. Logo, são muito frequentados –e não só por turistas, mas também pelos locais– o que amplifica mundialmente o alcance desse tipo de ação e, por extensão, o medo. Exatamente o que o terror busca alcançar, pela óbvia razão de que não será com três pessoas, um veículo e alguma arma –os elementos presentes em Barcelona– que a Espanha vai voltar a ser dominada pelo Islã.

As Ramblas, o ponto desta quinta-feira, são o centro da vida em Barcelona. É impossível ir à cidade sem passar por elas, de preferência desde a praça de Catalunya até a estátua em cujo pedestal Cristóvão Colombo aponta para as Américas que descobriu faz mais de 500 anos.

Logo, ao atacá-las, o terrorismo meteu medo não apenas em mim mas em todos os que vivem na cidade e passam obrigatoriamente pelas Ramblas e em todos os milhões de turistas que visitaram Barcelona e também obrigatoriamente passearam pela deliciosa via.

Vale idêntico raciocínio para pelo menos três outros atentados similares recentes: a ponte de Londres, caminho obrigatório para visitar a Torre de Londres, percurso que fiz faz exatamente um ano; a ponte de Westminster (quem deixa de passar pelo Big Ben adjacente ao visitar Londres?); e o mercadinho de Natal em frente à Gedächtniskirche, em Berlim, atacado em 2016. Mesmo longe do Natal, não há turista que não passe pela igreja, assim como são incontáveis os berlinenses que circulam pela avenida em que ela está instalada.

Fica claro, pois, que esse tipo de ataque atinge emocionalmente muito mais pessoas do que as que os presenciam ou são vítimas dele. É o objetivo do terrorismo por definição: despertar o terror no maior número possível de seres humanos.

A única diferença entre o de Barcelona e os outros é o fato de os três acusados terem sobrevivido; um deles, aliás, foi até preso. Oferece às autoridades uma oportunidade de estabelecer eventuais vínculos com alguma célula dita adormecida –essas que hibernam até que decidem entrar em ação.

Nos outros casos, mortos os autores, foram necessários muitos dias de investigação até chegar (ou não) a esses laços.

Existam eles ou não, fica o medo que gera a dúvida: qual será o próximo ponto querido de tantos a ser brutalmente atingido pelo fanatismo?

Onde fica Barcelona


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