Folha de S. Paulo


Farmácia uruguaia tem conta em banco cancelada por vender maconha

Uma farmácia uruguaia anunciou nesta semana que não venderia mais maconha, ainda que de acordo com a legislação local —aprovada no fim de 2013 e que terminou de ser regulamentada em julho. Isso porque o estabelecimento teve sua conta no banco Santander cancelada.

Esteban Riveira, dono da farmácia Pitágoras, do bairro de Malvín, em Montevidéu, afirmou que a suspensão da venda se trata de "uma medida preventiva, até que o governo regularize a situação das farmácias que vendem maconha com o mercado bancário internacional". E disse estar frustrado, porque se diz um defensor da legalização do produto.

As sucursais dos bancos estrangeiros no Uruguai, porém, ainda não se posicionaram formalmente sobre o assunto e afirmam estar consultando suas matrizes para saber se estariam violando leis internacionais no caso de terem entre seus clientes estabelecimentos que comercializem produtos ilícitos.

Apesar de regulamentada no Uruguai, a venda da droga ainda é configurada como uma atividade restrita nos outros países por se tratar de um produto ilícito. Outros países da região, como a Argentina, a Colômbia e o Chile, também vêm consultando bancos estrangeiros, uma vez que legalizaram recentemente a venda da maconha medicinal.

Desde que aprovada, em dezembro de 2013, a Lei da Maconha gerou polêmica com relação a esse quesito. Mesmo com a venda legalizada e regulamentada no país, o Banco Central do Uruguai havia alertado o governo do então presidente José "Pepe" Mujica a respeito do risco de que algumas entidades bancárias pudessem não estar de acordo e se negarem a ter as farmácias como clientes.

O assessor legal do Centro de Farmácias do Uruguai, Pablo Durán, afirmou que, caso esse movimento se amplie e outras farmácias venham a ter suas contas canceladas, a tendência será a de migrar suas contas para o Banco República, que é uruguaio e obedece apenas à legislação local.

Outra alternativa, já utilizada nos EUA e aventada pelo governo uruguaio na época do debate parlamentar sobre a lei, é fazer uso das "bitcoins" (moeda virtual) para viabilizar a comercialização.

Ainda assim, Durán chamou a atenção para o fato de ser ainda um fato isolado. "Por enquanto houve apenas este caso. Outros bancos advertiram seus clientes e avisaram que estão fazendo consultas, mas não cancelaram as contas."

AUMENTO DA DEMANDA

Enquanto isso, vem crescendo o interesse de farmácias em aderir à lei, devido à alta demanda dos consumidores nas primeiras semanas de implementação.

Segundo Durán, já há 20 novas farmácias na lista de espera para obter a permissão para vender maconha.

O governo analisa as propostas e tem demorado em responder porque a busca tem sido mais alta do que o esperado.

O número de usuários registrados também deu um salto, dos 6.700 iniciais para 11.508, o que vem causando longas filas nas farmácias autorizadas e falta de estoque em várias delas.


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