Folha de S. Paulo


Peru expulsa embaixador venezuelano por 'ruptura democrática' de Maduro

O Peru expulsou nesta sexta-feira (11) o embaixador da Venezuela em Lima, Diego Molero, como uma condenação ao regime de Nicolás Maduro, que considera responsável por uma ruptura democrática no país caribenho.

A nação andina é a primeira das Américas a exigir a saída do representante máximo venezuelano desde o início dos protestos contra o chavista, em abril, e da convocação da Assembleia Constituinte, instalada em 4 de agosto.

Guadalupe Pardo - 8.ago.2017/Reuters
Manifestante pede socorro à Venezuela em protesto durante a reunião de chanceleres latinos em Lima
Manifestante pede socorro à Venezuela em protesto durante a reunião de chanceleres latinos em Lima

A declaração é feita três dias depois que Lima sediou uma reunião de chanceleres de 17 países, incluindo o Brasil, em que os governos reiteraram o não reconhecimento da Constituinte e o apoio ao Legislativo opositor.

Molero terá cinco dias para sair do Peru. O Ministério das Relações Exteriores disse se tratar de uma resposta a uma nota de protesto de Caracas, que considerou como não recebida "por conter termos inaceitáveis".

Em resposta, o regime de Nicolás Maduro expulsou o encarregado de negócios peruano em Caracas e afirmou que Kuczynski "se tornou um inimigo da Venezuela ao interferir continuamente nos assuntos internos".

A Chancelaria acusou o líder de "torpedear a união latino-americana". "A Venezuela continuará aprofundando as relações com o heroico povo peruano apesar das ações birrentas da elite que governa o Peru."

A expulsão acontece após meses de confrontos verbais entre Maduro e o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, que o líder venezuelano escolheu como alvo preferencial.

A última foi na quinta (10), quando chamou o rival de "presidente estadunidense" ao chamar os chefes de Estado e de governo da América Latina e do Caribe a uma reunião para denunciar "o intervencionismo" no país.

"Desafio o presidente estadunidense do Peru a aprovar uma reunião de presidentes para nos vermos cara a cara e restituirmos as relações de respeito", disse Maduro, em discurso na Assembleia Constituinte que convocou.

A gênese do conflito foi uma declaração do peruano ao ser recebido pelo presidente americano, Donald Trump, em fevereiro passado —ele foi o primeiro mandatário latino-americano a visitar o republicano.

"[Os EUA] não investem muito tempo na América Latina porque é como um cachorro simpático que está dormindo no tapetinho e não causa nenhum problema [...] mas o caso da Venezuela é um grande problema."

Maduro exigiu uma retratação de Kuczynski. Dias depois, Delcy Rodríguez, então chanceler e atual presidente da Constituinte, provocou uma crise diplomática entre os dois países ao responder à frase do peruano.

"O único cachorro simpático que existe é ele, que vive abanando o rabo para seus donos imperiais e pedindo a intervenção da Venezuela."

PROCURADOR

O procurador-geral da República designado pela Assembleia Constituinte, Tarek William Saab, prometeu nesta sexta-feira (11) reabrir investigações arquivadas sobre delitos em manifestações da oposição venezuelana.

Saab reclamou, por exemplo, que não foi instalada nenhuma acusação de crime ambiental contra quem cortou árvores para armar barricadas ou de corrupção de menores para quem levou crianças aos protestos.

Ele criticou a chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, que foi deposta do cargo no dia 5, de não priorizar estes processos e prometeu reestruturar o Ministério Público.

Nesta sexta, a Assembleia Constituinte ratificou as quatro reitoras chavistas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Também recebeu uma proposta para antecipar as eleições para governador de dezembro para outubro.

Na quinta, a Casa destinada a mudar a Constituição ratificou Maduro como presidente. Os constituintes voltam a se reunir neste sábado.

Ao mesmo tempo, a oposição chamou seus seguidores a um protesto de apoio aos quase dez prefeitos presos.


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