Folha de S. Paulo


Maduro proíbe protestos na Venezuela às vésperas de voto para Constituinte

O governo de Nicolás Maduro anunciou nesta quinta-feira (27) a proibição de protestos na Venezuela entre esta sexta (28) e terça (1º) por ocasião da eleição para a Assembleia Constituinte, marcada para o domingo (30).

A oposição chamou seus seguidores a desafiar a decisão com grandes manifestações nos próximos três dias em repúdio à votação —iniciando com a tomada de Caracas na tarde desta sexta.

Federico Parra/AFP
Maduro abraça bandeira da Venezuela em comício para a Constituinte; governo proíbe protestos
Maduro abraça bandeira da Venezuela em comício para a Constituinte; governo proíbe protestos

O ministro do Interior, Néstor Reverol, disse que estão proibidos atos "que possam perturbar ou afetar a normalidade do processo eleitoral". O chavista ameaçou quem convocar mobilizações com detenção e penas de cinco a dez anos de prisão.

A iniciativa do ministro é mais extrema que a lei eleitoral, que proíbe protestos entre a véspera e o dia seguinte às votações. Em entrevista coletiva, a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) anunciou que desobedecerá a ordem do governo.

"Vão ter que fazer milhões de cadeias para prender todo o povo da Venezuela que vai amanhã para a rua", disse o deputado Jorge Millán.

"Como população temos a obrigação de estar na rua para aprofundar o processo contra a Constituinte", afirmou o vice-presidente do Legislativo, Freddy Guevara.

A proibição é anunciada após o segundo dia de greve geral, que a oposição afirma ter atingido "90% do país". A adesão, porém, foi parcial assim como na quarta (26), com comércio e ônibus privados paralisados e com serviços e repartições controlados pelo Executivo funcionando.

Também se repetiram os confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, que levaram à morte de quatro pessoas: um adolescente de 16 anos na capital e três homens, de 23, 29 e 49 anos em cidades do interior.

Somando-se às três mortes da véspera, a paralisação terminou com sete mortos, elevando para 107 o número de vítimas na onda de protestos.

Enquanto, simpatizantes de Maduro participaram do comício de encerramento da campanha para a Constituinte no centro de Caracas.

No evento, o mandatário propôs um diálogo com a oposição antes da instalação da Constituinte. Ele não deixou claro, porém, se estaria disposto a abrir mão de mudar a Carta do país.

"A batalha hoje não é com fuzis, com espadas. Vamos ganhar a batalha com milhões de votos de um povo patriota disposto a dar tudo pela paz", afirmou Maduro.

Diante do aumento da tensão entre o chavismo e seus rivais, os EUA tiraram as famílias de seus diplomatas na Venezuela e o Canadá emitiu um alerta de viagem.

IMPRENSA

Com a proximidade da Constituinte, o governo aumentou a repressão à imprensa local e estrangeira. Pelo menos dez jornalistas foram agredidos nesta quinta.

No aeroporto de Caracas, as autoridades deportaram o jornalista argentino Jorge Lanata. Opositor a Cristina Kirchner, aliada do chavismo, ele chegou a ser preso no local em 2012, após a cobertura das eleições presidenciais.


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