Folha de S. Paulo


Primeiro dia de greve na Venezuela termina com dois mortos e 40 feridos

Pelo menos duas pessoas morreram e 40 ficaram feridas em manifestações contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nesta quarta-feira (26), primeiro dia de greve geral de 48 horas convocada em repúdio à Assembleia Constituinte.

Assim como na primeira paralisação, na última quinta (20), a adesão foi parcial. Em Caracas o comércio e os escritórios de empresas privadas não abriram na zona leste, reduto da oposição.

Ueslei Marcelino/Reuters
Guardas Nacionais se protegem após manifestantes atirarem coquetel molotov em protesto em Caracas
Guardas Nacionais se protegem após manifestantes atirarem coquetel molotov em protesto em Caracas

Poucos ônibus da cidade, privados, circularam e o movimento foi pequeno em avenidas da região e do centro. Nos bastiões chavistas da zona oeste, porém, parte das lojas e escolas funcionaram normalmente, da mesma forma que o metrô, estatal.

Também foram trabalhar os bancários e os funcionários de órgãos públicos e da petroleira PDVSA. Os canais estatais VTV e Telesur exibiram reportagens durante todo o dia dizendo que a greve geral tinha sido um fracasso.

No final da tarde, o vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara, disse que 92% do país aderiu à paralisação, mas não afirmou se aludia ao número de cidades venezuelanas, empresas ou funcionários.

A greve foi acompanhada por protestos nos bairros e barricadas montadas em avenidas e rodovias. Os bloqueios foram os principais palcos dos confrontos entre as forças de seguranças e grupos de manifestantes.

Segundo o Ministério Público, Rafael Antonio Vergara, 30, foi baleado na manhã desta quarta-feira (26) durante um confronto com a Guarda Nacional em um conjunto habitacional de Ejido (a 655 km a oeste de Caracas).

No final da noite os procuradores confirmaram a morte de um adolescente de 16 anos ferido em uma manifestação no bairro caraquenho de Petare. Com eles chega a 102 o número de pessoas mortas nos quatro meses da onda de protestos.

A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) disse que pelo menos 40 pessoas ficaram feridas, sendo quatro em estado grave. Já a ONG Foro Penal Venezuelano contabiliza 50 manifestantes presos.

JURISTAS

Nesta quarta, o Ministério Público, dirigido pela chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, apresentou um recurso à Justiça Militar para que o advogado Ángel Zerpa seja julgado por um tribunal civil.

Zerpa foi um dos indicados pela Assembleia Nacional, dominada pela oposição, para as 33 vagas no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que, para os antichavistas, foram ocupadas em uma fraude.

O advogado está incomunicável desde que foi preso pelo Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) no último sábado (22). Dois dias depois, uma corte marcial decretou sua prisão preventiva.

Outros dois colegas dele, Jesús Rojas e Zuleima González, também foram capturados pelo Sebin e estão isolados em uma cadeia administrada pelos agentes de inteligência.

A greve geral aconteceu no dia em que o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, e 14 países membros do grupo, incluindo o Brasil, reiteraram seu pedido para que Maduro desista da eleição para a Constituinte.

Eles fazem o apelo desde que milhões rejeitaram a troca da Constituição em plebiscito simbólico convocado pela oposição, no dia 16.


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