Folha de S. Paulo


Visita à Casa Branca beneficia ações de empresas, diz estudo

Como os grandes empresários dos EUA se beneficiam quando visitam a Casa Branca de Donald Trump? Com um aumento médio de US$ 170 milhões no valor de mercado de sua empresa, segundo uma análise acadêmica.

Os professores de finanças que identificaram o aparente efeito acionário benéfico para executivos que visitaram a Casa Branca durante a administração de Barack Obama dizem que o mesmo efeito parece ter continuado no governo Trump.

Jeffrey Brown e Jiekun Huang, cujas análises de registros de visitantes na era Obama e preços de ações causaram espanto este ano, dizem que empresas cujos presidentes conseguem uma audiência com Donald Trump aparentemente também se beneficiam de uma performance excelente no mercado acionário nos dias próximos à visita.

A sugestão pode acrescentar um elemento adicional à discussão de como as empresas americanas devem interagir com a administração atual, conhecida por romper com precedentes.

Trump tem buscado uma proximidade maior com o empresariado do que fez Barack Obama nos primeiros meses de seu governo, mas alguns presidentes e executivos-chefes acharam a experiência incômoda, em vista da liderança polarizadora de Trump.

Alguns empresários, como Elon Musk, presidente da Tesla, abandonaram os comitês de assessoria criados pela Casa Branca para sondar o ambiente das empresas. Outros preferiram deixar suas dúvidas de lado e aproveitar a chance de influir sobre as políticas públicas da Casa Branca.

Sob a presidência de Trump, ele próprio empresário, mais líderes de empresas vêm entrando pelas portas da Casa Branca. Vinte e quatro executivos corporativos fizeram 38 visitas à Casa Branca nos cinco primeiros meses da administração Obama.

Mas, segundo pesquisa do "Financial Times", nos cinco meses passados desde a posse de Trump, mais de três vezes esse número de executivos –75 executivos de empresas que constam do índice S&P 1500– fizeram 106 visitas à Casa Branca.

As empresas do índice S&P 1500 cujos executivos foram à Casa Branca nos cinco primeiros meses da administração Trump tiveram uma alta do preço de suas ações nos três dias em torno da visita que foi 0,16% acima do que teria sido previsível de outro modo, segundo constataram Brown e Huang, professores da escola de administração de empresas da Universidade do Illinois em Urbana-Champaign. No caso dos executivos que foram à Casa Branca nos anos de Obama, o número equivalente foi 0,07%.

Se os padrões vistos na administração Trump continuarem a emular o que os acadêmicos descobriram que aconteceu na administração Obama, os ganhos associados a uma visita à Casa Branca podem crescer ainda mais nas semanas seguintes à visita dos executivos. Empresas cujos líderes foram à Casa Branca viram um retorno de 1% acima do mercado nos dois meses seguintes à visita.

Os dados limitados disponíveis até o momento sugerem que a performance melhor dos visitantes de Trump talvez não dure mais que o dia inicial da visita, mas, segundo Brown e Huang, ainda é cedo para dizer.

A pesquisa original dos dois professores provocou uma discussão este ano sobre se e como o mercado pode estar incluindo o impacto de visitas à Casa Branca na avaliação de preços.

"Encontramos evidências que correspondem à ideia de que, após reuniões com a administração, as empresas recebem tratamento regulatório mais favorável, mais contratos e que elas podem aprender algo que as ajude a administrar melhor as incertezas políticas e econômicas", disse Brown, que trabalhou no Conselho de Assessoria Econômica da Casa Branca durante a administração de George W. Bush.

Os pesquisadores analisaram informações sobre visitantes à Casa Branca de Trump colhidas pelo "Financial Times" de reportagens na mídia. A administração Trump rompeu com sua predecessora, negando-se a disponibilizar todos os dados sobre visitantes. A decisão foi criticada por Brown, dada a aparente importância das reuniões.

"Em vista do que sabemos, as visitas têm impacto, sim, mas não está claro se esse impacto é positivo ou negativo para os contribuintes", disse Brown. "Por isso é tão importante termos alguma transparência: para que a Casa Branca e as empresas possam ser responsabilizadas pelo que fazem, ou, pelo menos, para que o público possa ter conhecimento do que fazem."

As empresas de capital aberto envolvidas tinham capitalização de mercado média de US$ 80 bilhões, ou seja, o ganho médio de valor em três dias antes e depois de uma audiência com Trump foi de cerca de US$ 170 milhões.

As empresas cujos executivos visitaram Trump são em grande parte dos setores automotivo e manufatureiro, duas indústrias que o presidente destacou como alvos dos planos de seu governo para a geração de empregos.

Todos os CEOs que encontraram Trump com mais frequência –quatro vezes cada um, em média, nos cinco primeiros meses do governo atual, segundo a contagem do "Financial Times– são membros dos conselhos de assessoria de Trump: Andrews Liveris, da Dow Chemical, Ginni Rometty, da IBM, Mary Barra, da General Motors, Mario Longhi, da US Steel, e Elon Musk, da Tesla e SpaceX. Musk deixou os conselhos de manufatura e infraestrutura do presidente depois de Trump anunciar que os EUA vão se retirar do acordo de Paris sobre o clima.

CEOs de bancos e do setor de saúde foram os únicos que visitaram a Casa Branca reiteradas vezes nos primeiros cinco meses da administração Obama, uma época em que o país estava superando a fase pior da crise financeira e a administração estava deitando as bases daquela que se tornaria a Affordable Care Act, a lei de reforma da saúde de Obama.

O estudo feito por Brown e Huang dos visitantes à Casa Branca de Obama, assim como sua análise mais recente, envolvendo a Casa Branca de Trump, é o primeiro de seu tipo. Estudos acadêmicos anteriores sobre acesso político normalmente se baseiam em dados sobre o processo legislativo no Congresso. Brown e seu co-autor foram os primeiros a analisar dados do Executivo: mais de 2.200 reuniões com executivos corporativos que constam dos registros de visitantes da Casa Branca de Obama.

Tradução de CLARA ALLAIN


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