Folha de S. Paulo


Hungria faz campanha contra George Soros por 'incentivar imigração ilegal'

O investidor bilionário húngaro George Soros está "incitando a imigração ilegal" e representa "uma ameaça à segurança nacional". Foi assim que Zoltan Kovacs, porta-voz do primeiro ministro da Hungria, Viktor Orban, justificou a campanha do governo, que espalhou milhares de outdoors com fotos de Soros e a frase: "Não deixe Soros rir por último —99% rejeitam a imigração ilegal".

A campanha foi considerada antissemita —Soros é judeu— e representa o último capítulo do embate entre o governo nacionalista de direita de Orban e Soros e suas organizações, que defendem direitos humanos e um empenho maior dos países ricos para acolher refugiados.

Lalo de Almeida/Folhapress
Outdoor da campanha do governo da Hungria contra o bilionário húngaro-americano George Soros
Outdoor da campanha do governo da Hungria contra o bilionário húngaro-americano George Soros

"As intenções de Soros são contra a lei húngara. Ele incita a imigração ilegal ao sugerir que milhões de pessoas deveriam ser trazidas para a Europa", disse Kovacs à Folha em seu gabinete, em Budapeste. "Os planos e intenções dele viraram ameaça à segurança nacional, e o governo precisa lidar com isso."

Michael Vachon, porta-voz de Soros, afirmou que a campanha remete aos "tempos mais sombrios da Europa". Posteriormente, Soros emitiu uma nota dizendo: "Fico perturbado pelo uso do atual governo húngaro de imagens antissemitas como parte de sua campanha deliberada de desinformação."

Kovacs rebateu as acusações de Soros. "A esquerda deste país vem usando a acusação de antissemitismo como uma arma política nos últimos 30 anos. Nunca abordamos a religião dele, só o que diz e pretende fazer."

A campanha de outdoors será suspensa nesta semana, mas Kovacs nega que a interrupção se deva às críticas internacionais. "Não suspendemos nada, a campanha acabaria neste final de semana de qualquer jeito."

A UE anunciou que vai à Justiça contra o governo húngaro por causa de uma lei, aprovada no mês passado, que restringe a atuação de ONGs com financiamento estrangeiro e afeta todas as entidades ligadas a Soros.

A lei obriga grupos recebendo mais de € 24 mil (R$ 88 mil) por ano de financiamento estrangeiro a se registrar como "organização patrocinada por entidade estrangeira" e usar o termo em todas as suas apresentações.

Kovacs voltou a defender a política linha dura de seu país em relação aos migrantes e refugiados. A Hungria se recusa a participar do plano de cotas da UE para acolher refugiados. E o governo construiu, em 2015, uma cerca em sua fronteira com a Sérvia.

"A cerca tem sido muito eficiente, reduziu significativamente o número de pessoas entrando ilegalmente, e não temos uma opção melhor no momento para lidar com o que está acontecendo", diz.

Segundo ele, dezenas de pessoas tentam cruzar todos os dias e, se não houvesse a cerca, haveria uma repetição do ano de 2015, quando cerca de 400 mil migrantes passaram pela Hungria.

"Os húngaros viram centenas de milhares de pessoas cruzando nos últimos dois anos e isso levou a experiência negativas porque, além de tudo, são pessoas de culturas diferentes da europeia; não que os húngaros sejam xenófobos, mas essas pessoas simplesmente mudaram a rotina deles, e por isso há uma vasta maioria que apoia o que estamos fazendo na fronteira", disse.

"Sabemos que isso não é uma crise de refugiados, pois 95% dos que estão vindo são migrantes econômicos. Eles não vêm porque são perseguidos, mas porque querem uma vida melhor. "

Segundo ele, a Europa precisa preservar sua identidade e sua cultura.


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