Folha de S. Paulo


Em livro, brasileiro retrata situação caótica de refugiados na Grécia

"A vida em Idomeni é como o inferno. Se você deseja morrer, pode ir para lá."

Ler relatos sobre as condições de vida no extinto campo de refugiados de Idomeni, no norte da Grécia, é uma experiência impactante, mas os testemunhos ganham mais força quando o leitor descobre que partem de pessoas como Rami (nome fictício), sírio que fugiu da guerra civil aos 18 anos após perder o pai em um bombardeio e que sobreviveu a uma travessia perigosa no Mediterrâneo antes de chegar a Idomeni.

Gabriel Bonis/Divulgação
Homem segura placa com os dizeres
Homem segura placa com os dizeres "Abram o Caminho" no campo de refugiados de Idomeni

Para gente assim, as definições de "inferno" são tragicamente realistas.

Histórias como essa são encontradas no livro "Refugiados de Idomeni: o retrato de um mundo em conflito" (Hedra, 124 págs.), que chega às livrarias em agosto. Gabriel Bonis, jornalista e especialista em direito internacional, conviveu com refugiados e agentes humanitários em Idomeni durante sete meses, entre 2015 e 2016, e registrou a experiência na obra.

Durante muito tempo, o vilarejo serviu de ponto de travessia entre a Grécia e a Macedônia para refugiados que buscavam prosseguir sua jornada através dos Bálcãs em busca de asilo em países mais ricos no norte da Europa.

O local contava com um centro de transição montado por agências humanitárias para dar suporte aos migrantes que aguardavam para cruzar a fronteira.

Com o aumento do fluxo na região, em 2015, o governo da Macedônia passou a restringir a passagem de pessoas e instalou cercas na fronteira. Confrontos entre refugiados e policiais passaram a ser frequentes.

Em março de 2016, a entrada de refugiados foi bloqueada, deixando milhares de pessoas retidas no lado grego na esperança de, um dia, poderem seguir viagem.

Gradualmente, Idomeni se transformou de centro temporário em um campo com tendas precárias onde chegaram a viver mais de 10 mil refugiados, de acordo com o governo grego.

O acúmulo de lixo e a falta de saneamento tornavam o ambiente insalubre e acabavam facilitando a propagação de doenças. "Era um ambiente terrível à noite, principalmente no outono e no inverno", conta Bonis.

"As pessoas chegaram a um nível de desespero absurdo. Elas cortavam árvores, reviravam caçambas de lixo, queimavam roupas e plástico para tentar se aquecer."

Para além de retratar o drama dos refugiados, o livro mostra os desafios enfrentados por voluntários e agentes humanitários que atuavam no local e a relação por vezes conflituosa entre os estrangeiros e os cerca de 150 moradores do vilarejo.

"Eu quis retratar os conflitos entre refugiados, moradores e ONGs em Idomeni porque isso também fazia parte da situação no vilarejo. Tanto moradores como refugiados estavam expostos a um ambiente de extrema tensão e frustração", diz Bonis.

FIM DO CAMPO

A situação caótica de Idomeni atraiu atenção internacional e, em maio de 2016, as autoridades gregas decidiram fechar o campo e transferir os refugiados que ali viviam para abrigos oficiais. Apesar disso, explica Bonis, muitos problemas persistiram.

"A situação nesses campos é péssima. Os refugiados ficam em tendas oferecidas pelas autoridades, em regiões de difícil acesso e expostos à criminalidade", diz. "Eles foram esquecidos."

Há registros da atuação de gangues gregas e albanesas que chegam a aliciar crianças e jovens que vivem nos campos para a prostituição.

Refugiados De Idomeni
Gabriel Bonis
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Nos últimos meses, as autoridades transferiram parte dos cerca de 50 mil refugiados que permanecem na Grécia para apartamentos e abrigos adequados. Estrangeiros também passaram a receber repasses mensais para ter acesso a itens básicos.

Mas a situação ainda não é a ideal. Milhares de pessoas seguem em abrigos temporários no país, e algumas arriscam suas vidas tentando burlar os controles de fronteira na rota dos Bálcãs.

Refugiados de Idomeni
QUANTO: R$ 12 (E-BOOK, 124 PÁGS.)
AUTOR: GABRIEL BONIS
EDITORA: HEDRA


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