Folha de S. Paulo


Cúpula do G20 começa nesta sexta na Alemanha sob sombra da discórdia

Pawel Kopczynski/Reuters
Manifestante é detido por policiais durante protesto contra cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha, nesta quinta-feira
Manifestante é detido por policiais durante protesto contra cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha

Não foi apenas nas ruas que o receio de animosidade tomou os preparativos para a cúpula do G20 na Alemanha.

Quando os líderes das maiores economias do mundo se reunirem nesta sexta (7) em Hamburgo, também as negociações ficarão à sombra de líderes polarizadores como o americano Donald Trump, o russo Vladimir Putin e o turco Recep Tayyip Erdogan.

O G20 trata sobretudo da economia, mas o contexto deste ano impõe questões políticas cruciais. Além do protecionismo, os representantes dos 19 países e da União Europeia debaterão a mudança climática, as migrações em massa e o terrorismo.

O maior antagonista da cúpula é Trump, contra quem a maioria dos líderes se alinha. Ele chega a Hamburgo com uma visão de comércio oposta à defendida pelo G20: reivindica uma ordem bilateral em vez do multilateralismo que está na gênese do grupo.

Mas é, segundo analistas, exagerada a ideia de o encontro se tornar 19 contra 1. Trump deve ter apoio de Rússia, Turquia e Arábia Saudita em algumas das questões.

"Seria um erro imenso criar uma 'coalizão da boa-vontade' contra Trump", disse à Folha Rolf Langhammer, integrantedo T20, grupo de think tanks que estuda o G20.

Para não se indispor em demasia com os EUA, líderes europeus como a alemã Angela Merkel e o francês Emmanuel Macron devem buscar nestes dois dias de cúpula um caminho no meio.

A ministra das Finanças da Indonésia, Sri Mulyani Indrawati, disse à agência de notícias Reuters que Merkel precisa ter cautela. "Há um equilíbrio delicado, pois o embate pode criar mais problemas de credibilidade para o G20."

Anfitriã da cúpula, Merkel tem se fortalecido com o isolamento americano e vai usar o evento para se projetar –os alemães votam em setembro.

Macron também será observado com atenção. Eleito presidente em maio, o centrista tem se destacado na defesa da integração europeia.

O protocolo da foto oficial desta sexta pede que os líderes sejam enfileirados por tempo de cargo, o que aproximaria Trump de Macron –e deixaria ambos na borda do grupo. Mas as regras já foram flexibilizadas em outras ocasiões, e não havia detalhes prévios sobre esta edição.

PROTECIONISMO

Trump tem reiterado a ameaça de retirar os EUA de acordos comerciais, que ele considera desvantajosos ao interesse nacional. "Por que deveríamos continuar com esses acordos com países que não nos ajudam?", questionou em um canal oficial.

Na contramão, a União Europeia negociou um acordo com o Japão para estabelecer uma zona de livre comércio de tamanho equivalente ao do Nafta –o acordo entre EUA, México e Canadá que Trump quer renegociar.

Angela Merkel afirmou que Berlim continua comprometida com a cooperação internacional. E, em aparente recado a Trump, afirmou: "Precisamos de uma sociedade aberta, especialmente com fluxos comerciais abertos".

Seu ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, disse temer que os EUA lancem uma guerra comercial à Europa, impondo barreiras a produtos como o aço alemão.

O americano também acusa a China de trapacear na competitividade ao dar subsídios ao aço e de manipular suas taxas de câmbio.

Mas Trump não é o único ponto sensível na cúpula.

A Arábia Saudita e a Turquia podem entrar em atrito sobre o Qatar, país com o qual Riad e seus aliados cortaram relações em junho e o qual Ancara abastece.

A crescente tensão com a Coreia do Norte também pode criar desconforto no diálogo americano com Rússia e China, e o Acordo de Paris sobre o clima pode fazer de Trump o bode na sala.

PROTESTOS

O americano e o russo são alvo preferencial dos manifestantes. Nesta quinta, 12 mil protestaram sob o slogan "Bem-vindos ao Inferno". Houve enfrentamento com a polícia, que usou jatos d'água contra a multidão. Cerca de 75 policiais ficaram feridos.

As autoridades alemãs preveem mais protestos nesta sexta e neste sábado, com até 100 mil participantes. Há 20 mil policiais para a segurança do evento.

G20 na alemanha

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