Folha de S. Paulo


Investimentos da China viram tema da eleição presidencial no Quênia

O colapso de uma ponte construída pela China no oeste do Quênia trouxe para o centro da campanha presidencial queniana os investimentos de Pequim no continente africano.

A estrutura desabou no último dia 26, antes de ser inaugurada e apenas duas semanas depois de uma inspeção do presidente Uhuru Kenyatta, candidato à reeleição, segundo a rede americana CNN.

A ponte Sigiri foi construída ao custo de US$ 12 milhões pela Companhia Chinesa de Construção e Engenharia, em uma região historicamente carente de investimentos públicos. Em 2014, dezenas morreram depois que um barco afundou tentando cruzar o rio.

Simon Maina - 31.mai.2017/AFP
Passageiros desembarcam de trem em Nairóbi, na viagem inaugural de ferrovia construída pela China no Quênia
Passageiros desembarcam de trem em Nairóbi, na viagem inaugural de ferrovia construída pela China

Kenyatta visitou a ponte no dia 14 de junho, em um evento de campanha, e falou a uma multidão de apoiadores reunida às margens do rio que a obra traria o desenvolvimento que há décadas era negado à região.

"Há uma grande diferença entre aqueles que venderão propaganda a vocês e pessoas que venderão uma agenda real de mudança", disse Kenyatta.

O principal rival de Kenyatta nas eleições de 8 de agosto, Raila Odinga, culpou o governo pelo colapso da ponte Sigiri, acusando o atual presidente de acelerar a obra por motivos políticos.

"No passado, tivemos trabalhos de baixa qualidade feitos em projetos públicos, geralmente estradas e pontes, que comprometeram a vida útil de tais projetos e nos negou a relação custo/qualidade", afirmou Odinga.

A China é peça-chave para Kenyatta concretizar as promessas de melhorar a infraestrutura queniana, com obras financiadas e construídas pelos chineses.

No mês passado, o presidente lançou a ferrovia Madaraka Express, maior investimento no país desde que o Quênia conquistou a independência do Reino Unido, em 1963.

O megaprojeto, de US$ 3,8 bilhões, foi financiado pelo Banco Export-Import, da China, e liga a cidade portuária de Mombaça à capital, Nairóbi. No futuro, a ferrovia deve ligar o Quênia a outros países do leste africano.

O alto custo da ferrovia assustou: o valor por quilômetro é mais que o dobro de outra estrada de ferro construída pelos chineses, a que liga a capital da Etiópia, Adis Abeba, ao Djibuti, no nordeste da África.

A Kenya Railways, empresa local que irá administrar a futura ferrovia, atribuiu o alto preço à complicada geografia do local.

Em maio, o presidente chinês, Xi Jinping, anunciou a ambiciosa iniciativa "One Belt, One Road", com mais de US$ 100 bilhões para bancos de desenvolvimento na China. O objetivo é financiar obras de infraestrutura na África, Ásia e Europa.

Baseado em investimentos liderados pela China em pontes, ferrovias, portos e energia em mais de 60 países, o programa forma a espinha dorsal da nova agenda econômica e geopolítica de Pequim.


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