Enquanto os maiores jornais dos EUA e todas as principais emissoras concorrentes da Fox News condenavam, na última sexta (30), as declarações do presidente Donald Trump desqualificando dois âncoras da MSNBC, o programa noticioso de maior audiência da TV paga americana relativizava o episódio.
"[Defendem que] quando você é rude com as pessoas no Twitter, é preciso que você seja silenciado. Mas e os 80% de usuários do Twitter que são rotineiramente rudes com outras pessoas?", afirmou Tucker Carlson, sucessor de Bill O'Reilly no horário nobre da Fox News, citando o número sem dar referência.
No segundo trimestre, o Tucker Carlson Tonight foi o líder de audiência entre os canais de notícias, e oito dos dez programas mais assistidos no país foram da conservadora Fox News, segundo dados do instituto Nielsen.
A emissora teve 1,47 milhão de espectadores diários no período -uma alta de 27% em relação ao segundo trimestre de 2016. O crescimento da Fox News foi menor que o da rede MSNBC, que viu sua audiência diária subir 73%, mas o canal ainda conseguiu manter uma larga vantagem sobre os 886 mil espectadores do segundo colocado.
A rede CNN, um dos alvos preferidos do presidente nas redes sociais -o último ataque foi uma montagem de vídeo no qual Trump derruba no chão um homem com um logo da emissora sobre o rosto- registrou o menor crescimento entre os três canais (25%), com 788 mil espectadores diários.
O seu programa com maior audiência, o Anderson Cooper 360º, aparece em 20º lugar no trimestre, atrás de 14 da Fox News (incluindo a reprise do Tucker Carlson Tonight) e cinco da MSNBC, cuja tendência é liberal.
A liderança da Fox News não é novidade -é o 15º ano que a emissora mantém a dianteira no total da audiência entre os canais de notícia da TV paga-, mas o crescimento mostra que o canal ainda segue forte e com uma liderança folgada, mesmo após a saída de seu principal apresentador, Bill O'Reilly, em abril, afastado sob denúncias de assédio sexual.
Para Lucy Dalglish, diretora da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Maryland, o sucesso se explica, sobretudo, pela falta de competição dentro do nicho conservador e pela "lealdade" dos seus espectadores.
"Eles concentram todo o público conservador", disse Dalglish à Folha. "E sabem como alimentar o apetite da sua audiência."
Não é possível, no entanto, desconsiderar o impulso dado pela polarização política, que se intensificou após a eleição de Trump, em novembro, e pelos próprios tuítes do presidente, que, nesta segunda-feira (3), mais uma vez agradeceu à cobertura da Fox News.
Há quem defenda que a própria cobertura mais incisiva da CNN e da MSNBC contra o governo Trump teria contribuído para manter a Fox News -que abertamente critica a cobertura das concorrentes e questiona sua credibilidade- na dianteira.
Os números, contudo, mostram que os escândalos do governo Trump têm sido bons para a imprensa americana em geral. Não só os três principais canais de notícias na TV paga viram sua audiência crescer nos últimos três meses, como os maiores jornais experimentaram um aumento na quantidade de assinantes após a eleição do republicano.
ASSÉDIO NA FOX SPORTS
Nesta segunda (3), a 21st Century Fox se viu envolvida em mais um escândalo de assédio sexual. Pouco mais de dois meses após a saída de O'Reilly da Fox News, Jamie Horowitz, um dos principais executivos da Fox Sports, foi demitido, segundo o "New York Times", em meio a uma investigação sobre um possível caso de assédio. A emissora não confirmou o motivo da saída de Horowitz.
"Todos da Fox Sports, não importa o papel que desempenhem, ou que função tenham ou em que programa trabalhem, devem agir com respeito e ter uma conduta profissional o tempo todos", disse o presidente da Fox Sports, Eric Shanks, em comunicado interno circulado após a demissão de Horowitz e divulgado pelo Times.
Programas de maior audiência - Em média por tempo no ar, desde o início do ano*